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Vida no Trânsito em BH: coordenação para reduzir os números de vítimas

Tratamento dos dados dos acidentes ocorridos em Belo Horizonte ganha prêmio em mostra de Epidemiologia

Marina Lemle

As mortes e lesões no trânsito têm magnitude de epidemia e para contê-las é preciso entender os diversos fatores relacionados aos acidentes. Dados isolados, porém, não formam uma história completa: é preciso relacioná-los e analisá-los para chegar a conclusões. Conclusões tristes, mas que apontam para soluções.

Esse é o mote do trabalho “A intersetorialidade como estratégia para redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito em Belo Horizonte”, da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA), vencedor na categoria “Vigilância, prevenção e controle de agravos e doenças não transmissíveis e promoção da saúde” da 12ª Mostra Nacional de Experiências Bem Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças (Expoepi), realizada em Brasília de 16 a 19 de outubro de 2012.

O trabalho premiado foi baseado na experiência intersetorial da SMSA junto aos órgãos de trânsito - BHTRANS, Detran-MG e Polícia Militar de Minas Gerais – dentro do Projeto Vida no Trânsito, implantado no município em 2010. Os objetivos do trabalho foram qualificar as informações sobre acidentes de trânsito em Belo Horizonte, buscando identificar os principais fatores de risco, ampliar parcerias para o enfretamento do problema e subsidiar informações para intervenções em pontos prioritários.

Para analisar os acidentes fatais e graves ocorridos no município, foi feito o relacionamento do banco de dados do Sistema de Registro de Eventos da Defesa Social, qualificados pela BHTRANS, com os bancos de dados da Saúde - o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/MS) e o Sistema de Informações Hospitalares do SUS. Foi utilizada a metodologia prevista pelo Projeto Vida no Trânsito e pela Global Road Safety Partnership. Foram realizadas análises trimestrais de acidentes de trânsito fatais e graves ocorridos no município a partir do terceiro trimestre de 2010, além do georreferenciamento dos eventos por local de ocorrência.

As análises permitiram identificar os principais fatores e grupos vulneráveis para a ocorrência e a gravidade dos acidentes: excesso de velocidade, conduta inadequada de motociclista, condutor jovem, pedestre e uso de álcool e direção. Jovens de 18 a 29 anos (aproximadamente 40%) e adultos jovens de 30 a 39 anos (aproximadamente 30%) foram os envolvidos mais frequentes, e os idosos foram o principal grupo de vítimas dentre os atropelamentos (25%). Outros fatores de risco merecedores de destaque para novos programas foram condução sem habilitação e desrespeito à sinalização.

De acordo com a gerente de Epidemiologia e Informação da SMSA, Lúcia Paixão – uma das autoras do estudo - o trabalho trata da qualificação da informação e da aproximação dos setores de saúde com os órgãos de trânsito municipal e estadual para poder qualificar os dados e ter uma análise adequada dos mortos e feridos graves, entendendo os fatores associados aos acidentes.

“Cada banco de dados tem seu modo de operar. Os bancos dos órgãos de trânsito não têm a magnitude da informação por não saberem sobre as vítimas que não morrem no local, mas depois da internação. Os bancos da saúde agregam estas informações”, explica.

Segundo Lúcia, a análise do ano de 2011 está sendo fechada agora, porque alguns fatores atrasam as análises: os dados do órgão de trânsito municipal têm que ser redigitados para entrar no sistema estadual e a saúde trabalha com a lógica da fatura: os hospitais têm até seis meses para apresentar os dados. Já as mortes violentas, incluindo as dos acidentes, têm que passar pelo IML, e às vezes o laudo demora a sair.

O trabalho intersetorial para a produção de análises dos fatores de risco e geoprocessamento dos acidentes permitiram o direcionamento do planejamento de programas e intervenções para a redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito, que vêm sendo realizadas através de parcerias entre diversos órgãos públicos e a iniciativa privada.

As ferramentas de georreferenciamento foram usadas para orientar a alocação de radares de controle de velocidade e detectores de avanço de sinais no município. Já as blitzes da Lei Seca, que têm apresentado resultados muito positivos em outras cidades, ainda são muito recentes na capital mineira e, segundo Lúcia, seria precoce atribuir alguma relação.

Remando contra a maré

De acordo com a gerente de Epidemiologia e Informação da SMSA, ainda é cedo para tirar conclusões definitivas. Ela adianta que os números absolutos mostram uma estabilidade nas mortes, mas explica que quando se analisam as mortes em relação ao crescimento da frota, observa-se uma tendência de redução. “É preciso levar em conta que a frota cresceu muito, principalmente a de motos. Estamos remando contra a maré, porque quanto maior a frota, maior o risco, e é mais difícil fazer baixar o número de vítimas”, diz.

Lúcia acrescenta que o número de internações pode aumentar também por uma melhora na assistência pré-hospitalar. “A observação deve ser feita por um período longo e com o apoio da academia”, afirma. O projeto Vida no Trânsito prevê avaliação por universidades. Hoje, a UFRGS, PUC de Curitiba e a UFMG realizam as avaliações das cidades envolvidas. Em Belo Horizonte, a avaliação é feita pela UFMG, mas ainda não está disponível.

A premiação do trabalho, no valor de R$ 50 mil, foi repassada ao Fundo Municipal de Saúde para dar continuidade aos objetivos do projeto. Além de Lúcia Paixão, participaram do trabalho Anne Girodo, Lenice Harumi Ishitani, Ilma Maria de Paula, Eliane de Freitas Drumond, Izabel Cristina Pinheiro, Isaac Francisco de Quadros Neto, Ugeferson Marques e Marlene Coelho Nepomuceno.

Vida no Trânsito

Iniciativa do Ministério da Saúde, o Projeto Vida no Trânsito é a designação do Projeto RS10 no Brasil. O projeto internacional é uma parceria da Organização Mundial de Saúde (OMS) com a Global Road Safety Partnership e a Fundação Bloomberg Philanthropies que visa o desenvolvimento de ações eficazes para a Década do Trânsito Seguro, instituída pela ONU. O objetivo é reduzir pela metade as mortes no trânsito no mundo até 2020. A iniciativa está presente em dez países de renda média ou baixa que respondem por 48% das mortes no trânsito no mundo.

No Brasil, o projeto foi implantado inicialmente em cinco cidades - Belo Horizonte (MG), Teresina (PI), Palmas (TO), Campo Grande (MS) e Curitiba (PR) – e agora se expande a outras capitais e metrópoles.

As primeiras reuniões do projeto Vida no Trânsito em BH foram realizadas em outubro de 2010. Um plano de ação foi traçado pelo comitê de gestão da informação do projeto. Essas estratégias incluem ações educativas, de engenharia e fiscalização, além de ações intersetoriais realizadas por meio de parcerias entre órgãos municipais e estaduais e parceiros não-governamentais.
 A SMSA, em parceria com a BHTRANS e ONGs, tem realizado campanhas educativas em bares para alertar a população. Também existem campanhas com enfoque no público idoso, maior vitima de atropelamentos, através das Academias da Cidade; e também campanhas de conscientização de motociclistas e pedestres.

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