(2a Edição, Fevereiro de 2010).
Uma característica fundamental dos acidentes de trânsito é a violência dos choques.
A proteção dos automobilistas é objeto de pesquisas constantes dos construtores e, felizmente, tem tido progressos significativos.
Conscientizar-se da extensão e da gravidade dos efeitos das colisões.
Entender o funcionamento dos sistemas de proteção existentes nos veículos.
Assimilar princípios de direção defensiva: não criar situações de acidentes; usar sempre o cinto de segurança.
Compreender a necessidade de cuidar de si e do outro no trânsito.
Identificar as consequências decorrentes de um acidente.
Mesmo em velocidade moderada, as colisões têm efeitos violentos sobre os ocupantes dos veículos.
Os cintos de segurança constituem elementos de segurança indispensáveis e obrigatórios, tanto nos assentos da frente quanto nos de trás.
O air-bag complementa o cinto, mas não o substitui.
Acima de determinada velocidade, a colisão afeta os órgãos internos das pessoas, chegando a causar, nos mesmos, lesões internas irreversíveis ou fatais.
1. Segurança ativa e segurança passiva
2. As três colisões sucessivas
3. Os dispositivos de proteção
4. Os cintos de segurança
5. A coordenação dos cintos e dos air-bags
6. Os limites em termos de velocidade
As características dos veículos e os cuidados na sua manutenção influem na segurança do trânsito. Todos sabem que pneus carecas e freios em mau estado aumentam o risco de acidente. Na realidade, muitas outras partes dos veículos condicionam a segurança do mesmo. Elas se classificam em duas categorias, em função da sua finalidade:
§ Os elementos que vão permitir reduzir os riscos de acidentes como, por exemplo, o sistema de frenagem. O conjunto destes elementos do veículo constitui a segurança ativa.
§ Os elementos que vão permitir reduzir as consequências dos acidentes como, por exemplo, os cintos de segurança. O conjunto destes elementos do veículo constitui a segurança passiva.
Vamos estudar nesta aula o segundo grupo, a segurança passiva, isto é, como reduzir os efeitos do acidente sobre os ocupantes do veículo.
Os técnicos de trânsito utilizam a palavra “colisão” para designar o choque de um veículo contra um obstáculo ou contra outro veículo. Referem-se, por exemplo, à colisão frontal, lateral, traseira etc.
Frente à gravidade dos acidentes, procurou-se entender o que acontece durante o choque e chegou-se a descrevê-lo como a sucessão de três colisões:
§ A primeira colisão é a do veículo contra o obstáculo.
§ A segunda colisão, no interior do veículo, é a dos ocupantes do mesmo contra as paredes, o pára-brisa, os assentos etc.
§ A terceira colisão, no corpo de cada pessoa, é a dos órgãos internos contra a estrutura óssea e também entre eles.
Imaginemos um veículo batendo num obstáculo fixo como um muro, ficando depois imóvel.
A velocidade do veículo passa a zero num tempo muito curto, da ordem de 0,10 segundos.
Ele é submetido a uma aceleração negativa violenta. Por exemplo, se a velocidade dele no momento do choque fosse de 20m/segundo (72 km/hora), a aceleração seria[1]:
γ = V / T = 20m/seg. / 0,10seg. = 200 m/seg./seg. isto é aproximadamente 20 g.
[1] Cálculo feito, para simplificar, supondo que o movimento seja linear.
20 g equivale a vinte vezes a aceleração da gravidade.
Neste lapso de tempo que chamamos de duração do choque, a frente do veículo é amassada, deformada, ou mesmo destruída, até o veículo ficar completamente parado.
Quando o veículo parar, ao final da primeira colisão, se algum ocupante não estiver usando o cinto, ele será jogado para frente, na mesma velocidade em que o veículo se deslocava antes do choque. O corpo só vai parar quando encontrar um ou vários obstáculos.
Quanto ao condutor sem cinto, este poderá sofrer um choque dos joelhos contra o painel de instrumentos, do tórax contra o volante, e da cabeça contra o pára-brisa.
Isto ocorre num tempo extremamente curto, sem redução de velocidade. Sem nada para amortecer os choques, a velocidade com que o corpo bate nestes obstáculos é igual à velocidade inicial do veículo.
As consequências do choque do corpo contra o interior do veículo não vão ser somente lesões externas, como fraturas dos membros ou cortes e escoriações. Elas vão ser agravadas por lesões internas. Por exemplo, quando a caixa craniana se imobilizar contra o pára-brisa, o cérebro vai ser jogado contra a parede frontal do crânio, com uma velocidade igual à velocidade inicial do veículo. Neste momento, podem ocorrer rupturas de órgãos e graves hemorragias internas.
É fácil imaginar que acima de determinada velocidade, isto poderá provocar lesões irreversíveis, ou mesmo fatais.
A estratégia adotada pela maioria dos construtores de automóveis para proteger os ocupantes em caso de colisão é em primeiro lugar proporcionar aos ocupantes um habitáculo protegido da primeira colisão e em segundo lugar, instalar dentro deste habitáculo dispositivos de proteção contra a segunda colisão: cintos de segurança, encostos de cabeça e air-bags.
Habitáculo é a parte da carroceria do veículo que constitui o espaço reservado aos ocupantes.
Para conseguir que o habitáculo não fique destruído pelo choque, a parte dianteira do carro é concebida para se deformar sob o efeito do choque e para absorver, no curto período de sua deformação, toda a energia cinética do veículo.
Esta zona de deformação atenua a pancada e faz com que o habitáculo em vez de ser destruído, possa parar sem causar danos importantes.
A aceleração negativa sofrida pelo habitáculo é a que resulta do cálculo apresentado acima no parágrafo “a primeira colisão”: da ordem de 20 g numa colisão à velocidade de 20 m/seg. (72 km/h).
No momento de uma parada súbita do veículo, os ocupantes conservam a sua energia cinética e tendem a permanecer em movimento.
Eles são, então, arremessados para frente. Os cintos de segurança se destinam a evitar que os passageiros da frente sejam projetados sobre o painel do carro, e os do banco traseiro, sobre os assentos dianteiros, ou que sejam ejetados para fora do veículo.
Veremos mais adiante que, para ser eficiente, cada cinto deve ser complementado por:
§ Um encosto de cabeça.
§ Um (ou mais) pré-tensionador(es).
§ Um limitador de carga.
Um air-bag é uma bolsa flexível, em tecido, na qual um gás é injetado rapidamente em caso de colisão. Fica posicionada no veículo de forma a constituir uma almofada na frente do corpo da pessoa.
Todos os modelos de carros são submetidos a provas de segurança passiva, por meio de colisões contra um obstáculo de concreto (ou estruturas metálicas) à velocidade de 56 km/h. Estas provas são chamadas “crash-tests”.
O cinto de segurança chamado de cinto 3 pontos é formado de duas tiras de tecido, passando uma sobre a pélvis e a outra sobre o tórax. Assim, a força de resistência do cinto é aplicada sobre partes do corpo relativamente resistentes. Portanto, ele deve ser colocado de maneira a não concentrar a força numa área pequena como, por exemplo, através de uma carteira, uma caneta, ou qualquer objeto preso entre o corpo e o cinto.
A primeira dificuldade em relação ao cinto é que ele deve, em circunstância normal, deixar certa liberdade de movimento e, no momento eventual de uma colisão, prender o corpo, para freá-lo. Isto levou à invenção do mecanismo de retração e do pré-tensionador.
O mecanismo de retração é aquele que mantem o cinto sempre junto ao corpo, embora permita liberdade de movimentos. Este mecanismo inclui uma bobina, na qual o cinto é enrolado na sua ponta de cima. Uma mola instalada na bobina faz com que esta enrole o cinto quando estiver frouxo. Este mecanismo possui também um sistema de trava que bloqueia a bobina quando o carro desacelera rapidamente ou quando algo traciona bruscamente o cinto.
O pré-tensionador tem por objetivo recuperar a folga do cinto em caso de colisão.
Imediatamente após o início da colisão, o pré-tensionador aperta o cinto, reduzindo ao máximo a folga entre o corpo e o cinto. O objetivo é que a pessoa aproveite a 100% a frenagem provocada pela deformação do automóvel. O corpo apóia-se no cinto enquanto este começa a ser submetido à aceleração negativa da primeira colisão e vai ser freado junto com o cinto.
O cinto transmite ao corpo do ocupante uma aceleração negativa similar àquela sofrida pelo veículo, da ordem de 20 g no exemplo acima (colisão a 70 km/h). Isto corresponde a uma força da ordem de 1,4 toneladas aplicada pelo cinto sobre o abdômen e o tórax de uma pessoa pesando 70 kg.
Sem pré-tensionador, o corpo da pessoa iria apoiar-se sobre o cinto com atraso, encontrando-o já parado e sofreria um esforço muito maior.
Existe uma variedade de tipos de pré-tensionadores. Uns são amarrados à argola de afivelamento do cinto; outros agem sobre a bobina do dispositivo de retração.
A segunda dificuldade é que, na realidade, o valor limite da força aplicável sobre a caixa torácica, varia de 400 a 800 quilos, segundo a idade e a robustez da pessoa. É uma força que provoca uma compressão torácica da ordem de 75 mm, valor máximo admissível.
As respostas da indústria são três:
§ O tecido do cinto de segurança é feito de um material flexível, permitindo que ele se estique um pouco,
§ Um limitador de carga é acoplado ao mecanismo de retração do cinto.
§ Um air-bag se interpõe entre a pessoa e os obstáculos, em complemento ao cinto.
Limitador de carga
O limitador de carga, frequentemente integrado no nível da bobina do mecanismo de retração, é constituído de uma peça de metal que se rasga ou se deforma de maneira programada para limitar a pressão do corpo contra o cinto quando dos choques mais violentos. Por exemplo, em um choque entre 50 e 60 km/h, este “amortecedor” permite baixar a mais da metade a carga exercida pelo cinto sobre o tórax, de 900 a 400 kg, reduzindo assim os riscos de fratura das costas ou de parada cardíaca.
Para otimizar os efeitos dos cintos e dos airbags, é preciso sincronizar o seu funcionamento: o comando de todos estes dispositivos é centralizado.
Os construtores de veículos propõem uma grande variedade de sistemas, associando estes dispositivos e obedecendo aos princípios citados acima.
Veja a seguir um exemplo de esquema de funcionamento de um sistema de retenção, no caso de uma colisão suficientemente violenta para justificar o uso do air-bag.
Exemplo de funcionamento do sistema de retenção
1. Nos primeiros 15 milésimos de segundo, o air-bag dispara e um pré-tensionador puxa o cinto para prender o passageiro ao seu assento.
2. Mais 30 milésimos de segundo, o air-bag infla e sua pressão se estabiliza. A pressão do cinto aumenta progressivamente com o avanço da parte alta do corpo.
3. Assim que o tórax entra em contato com o air-bag, uma válvula se abre, a uma determinada pressão, a fim de liberar parte do gás contido na bolsa. O limitador de carga se distende para aliviar as resistências localizadas.
4. Nos milésimos de segundos finais, o limitador de carga do cinto e a válvula de extração controlada agem em conjunto a fim de distribuir a absorção de energia cinética por toda a superfície do tórax, durante um tempo aceitável.
Vimos nesta aula que:
§ Os sistemas de proteção são avaliados em crash-tests realizados à velocidade de 56 km/h, bastante inferior às velocidades em que trafegam os veículos nas nossas estradas.
§ Em colisões ocorridas na faixa de velocidade de 60 a 70 km/h, os dispositivos de proteção e os organismos estão submetidos a esforços que alcançam ou ultrapassam os limites suportáveis.
Se a colisão ocorrer em velocidade superior a 80 km/h, as lesões externas e internas têm todas as probabilidades de serem gravíssimas, irreversíveis ou fatais.
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