(25/04/2007)
Mais do que números, estamos falando de vidas!
A elevada mortalidade por acidentes de trânsito representa um problema de saúde pública tanto no Brasil como em diversos países, tomando aspectos de uma verdadeira epidemia. Os acidentes de trânsito e a violência urbana são as causas mais importantes de mortalidade entre jovens com menos de 35 anos; principalmente os jovens do sexo masculino, que são os mais envolvidos em acidentes de trânsito fatais. Notam-se como principais fatores de risco para tal: o excesso de velocidade; dirigir sob o efeito de bebida alcoólica; não uso de capacetes ou de cinto de segurança; e problemas de desenho e infra-estrutura de rodovias e vias públicas.
Pesquisa realizada pelo IPEA/ANTP, entre os anos 2001 e 2003, quantificou os custos dos acidentes de trânsito em áreas urbanas e concluiu por perdas anuais da ordem de R$ 5,3 bilhões de reais. Essas mesmas instituições, em 2006, demonstraram que os impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras são bastante significativos, estimados em R$ 24,6 bilhões de reais; custos estes devidos principalmente à perda de produção, associada à morte das pessoas ou interrupção de suas atividades, seguido dos custos de cuidados em saúde e os associados aos veículos. Além dos custos diretos, há vários outros custos, indiretos e muitas vezes invisíveis que acabam promovendo uma desestruturação familiar e pessoal imensurável.
Os acidentes de trânsito e a violência urbana, entre as causas gerais, são as causas mais importantes de mortalidade nos grupos etários abaixo de 39 anos. Um estudo realizado pelo Ministério da Saúde/MS nos atestados de óbitos de 2004 identificou um total de 35.084 óbitos por acidentes de transporte terrestre no Brasil. Desse total, 28.576 mortes (81,5%) ocorreram em pessoas do sexo masculino e 6.495 (18,5%) em pessoas do sexo feminino. A faixa etária de 15 a 39 anos concentra 52,1% de todos os óbitos, correspondentes a 18.520 óbitos, 84,1% correspondem a óbitos do sexo masculino e 19,9% foram óbitos do sexo feminino.
Grande parte dos óbitos por acidentes de trânsito é devida aos atropelamentos de pedestres ou acidentes envolvendo automóveis, embora nos últimos anos tem sido observado aumento no risco de morte por acidentes de trânsito envolvendo motos.
Em termos de taxa bruta, pode-se afirmar que os brasileiros morreram por acidentes de transporte em 2004 a uma taxa de 19,6 por 100 mil habitantes.
Senhor Presidente,
Nós jovens, protagonistas de nossa história, estamos assustados e indignados com o quadro anteriormente mostrado. Sabemos que os acidentes de trânsito não são acidentes, já que podem ser evitados. Os mesmos são reflexos de uma cultura social que tolera o excesso de velocidade, a ingestão de bebida alcoólicas por condutores e pedestres e outras ações imprudentes e inconseqüentes, bem como valoriza o individualismo em detrimento do coletivo.
Como vítimas em potencial de acidentes de trânsito, nós, os jovens nos levantamos, e exigimos o direito de permanecermos vivos, transitando pelo mundo. Sendo jovens nós sabemos o que está em nossas mentes, os nossos gostos e desagrados e as mensagens que nos alcançarão. Por esta razão, é necessário que efetivamente participemos da formulação e controle social das políticas de segurança no trânsito, implementadas pelo poder público.
Nosso Compromisso
Nós, os jovens, respeitamos nossas vidas e as dos outros. Por ser a vida tão frágil, devemos fazer o melhor por vivê-la seguramente e encorajar outros a fazê-lo também. Com respeito à segurança no trânsito, reconhecemos inteiramente a importância do envolvimento dos jovens em fazer um trânsito seguro. Chamamos à atenção de todos os jovens para os riscos que nos expomos ao trafegarmos por este Brasil.
Convocamos todos os jovens a se tornarem modelos nas rodovias e que promovam a segurança no trânsito entre nossos amigos e familiares, em particular com nossos irmãos e irmãs mais jovens. Especificamente, pedimos a todos os jovens que evitem dirigir sob a influência de álcool e outras drogas, o excesso de velocidade, o comportamento agressivo no trânsito. Utilizem o capacete quando trafegar em motos ou bicicletas, os cintos de segurança, principalmente o do banco traseiro, quando em veículos motorizados.
Entendemos que como pedestre ou ciclista devemos nos assegurar uma boa visibilidade da pista e de nos mostrarmos visíveis aos motoristas.
Além disso, convocamos todos os jovens a participar das campanhas e programas locais, nacionais e internacionais de segurança no trânsito. Só o nosso esforço não é o suficiente. Por essa razão, convocamos nossos pais e responsáveis, nossas escolas e universidades, as comunidades onde vivemos, os formuladores das políticas no governo de nosso país, organizações da sociedade civil, empresas do setor privado, a mídia, os formadores de opinião, os ídolos, o setor de entretenimento, a se reponsabilizarem e trabalharem em conjunto conosco para fazerem o trânsito mais seguro.
Pais e Responsáveis
Nós lembramos a vocês, nossos pais e responsáveis, que o risco de morrermos no trânsito é muito alto. É em vocês que nos apoiamos enquanto jovens.
Reconhecemos que nem todos tiveram a oportunidade de aprender sobre segurança no trânsito. Todavia, convocamos vocês a criar um ambiente seguro para nós, quando estivermos trafegando, e para servirem de modelos de comportamento seguro no trânsito.
Propomos a vocês uma parceria entre nós para formarmos novas geracões comprometidas com a construção de um ambiente seguro e saudável no trânsito.
Instituições Educacionais
Nós vemos as instituições educacionais como de fundamental importância, pois elas nos possibilitam conhecimentos e habilidades que necessitamos para sermos cidadãos. Por esta razão, solicitamos aos gestores e educadores destas instituições que incluam em suas grades curriculares/projeto pedagógicos a Saúde e Segurança no Trânsito desde a mais tenra idade. Assegurem que os nossos entornos e caminhos para as instituições de ensino sejam seguros e estimulem o transporte escolar seguro.
Convocamos vocês a criar em todas as instituições de ensino O dia de Saúde e Segurança no Trânsito, oportunidade para contemplar a formação em primeiros socorros e privilegiar as ações preventivas.
Vamos além! Convocamos as universidades e aqueles que as dirigem para que promovam programas de graduação e pós-graduação sobre segurança no trânsito e que desenvolvam, publiquem e divulguem mais pesquisas sobre prevenção de acidentes no trânsito.
Comunidades
Apelamos aos líderes comunitários para que criem comunidades seguras para nós. Acreditamos que as autoridades locais têm um papel primordial em assegurar a segurança no trânsito e em apoiar grupos que promovam-na.
Pedimos que não esqueçam as vítimas dos acidentes, mas que ofereçam cuidados e serviços para as mesmas e envolvam-nos em campanhas de advocacia e outras iniciativas de segurança no trânsito.
Convocamos os proprietários de estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas, para que reconheçam a sua responsabilidade social e legal em não servir bebidas alcoólicas a menores de 18 anos e a condutores de veículos, considerando o elevado nível de consumo de tais bebidas, retratado por pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas CEBRID, em 2004, em 27 capitais brasileiras. Tal estudo revela que, dos 45.155 estudantes ouvidos, 65,2% havia usado algum tipo de bebida alcoólica pelo menos uma vez na vida, não havendo, praticamente, diferença de comportamento entre os sexos. Porém, o mais preocupante é o início do consumo que vem se dando mais cedo. Pois 41,2% dos estudantes da faixa etária dos 10 aos 12 anos e 69,5% dos estudantes da faixa etária dos 13 aos 15 anos iniciaram o consumo de bebida alcoólica nas citadas faixas etárias.
Estamos dispostos a acionar os mecanismos legais de controle!
Formuladores de Políticas
Exigimos que os governos reconheçam os acidentes do trânsito como um problema grave de saúde pública, principalmente para nos jovens, e coloquem a segurança no trânsito em suas agendas de prioridades políticas, bem como priorizem uma política que privilegie o transporte de massa.
Solicitamos e exigimos aos órgãos governamentais que invistam em infra-estrutura viária e fiscalização, para que se tenha um trânsito mais seguro.
Nós os convocamos para liderar o aprimoramento da segurança e qualidade do sistema de trânsito. Por essa razão, convocamo-los a assegurar um transporte público coletivo seguro e que atenda as necessidades da população.
Também pedimos urgência na criação de um plano para a segurança no trânsito, com gestores responsáveis pela sua implementação e coordenação, e a criação urgente de conselhos paritários nas esferas da união, dos estado e dos municípios, visando o controle social, com a participação de jovens da sociedade civil organizada.
Exigimos, que implantem efetivamente e fiscalizem o que está previsto no Código de Trânsito Brasileiro e ampliem o investimento de recursos financeiros para assegurar o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a segurança no trânsito e maior acessibilidade das pessoas, principalmente aquelas com deficiências.
Empresas Privadas
Os fatores externos interferem fortemente sobre o modo como pensamos e nos comportamos, sendo assim nos tornamos vulneráveis, quando suas propagandas valorizam a velocidade e encorajam o consumo excessivo do álcool, nos dando a impressão de que podemos nos permitir riscos como estes!
Repudiamos os fabricantes de automóveis que promovem e produzem carros rápidos, potencialmente perigosos, e sem equipamentos de segurança. Exigimos que invistam no desenvolvimento de veículos mais seguros.
Exigimos às companhias produtoras de bebidas alcoólicas que restrinjam a promoção publicitária de bebidas entre pessoas jovens.
Além disso, convocamos as seguradoras a promover os benefícios de comportamento seguro nas rodovias e que desenvolvam políticas de seguro efetivas e eficientes. Convocamos o setor privado para que estabeleçam financiamento conjunto com outras organizações nas campanhas de segurança no trânsito.
Convocamos as empresas privadas a cumprir efetivamente sua responsabilidade social na venda e no desenvolvimento de produtos seguros.
Mídia
É notavel o poder da influência da mídia sobre a sociedade. Somos grandemente influenciados por ela, particularmente, pela mídia direcionada a nós e pelos estilos de vida por ela promovidos.
Como tais, nós convocamos a mídia a abordar as questões de violência no trânsito, assim como comportamentos de risco. Pedimos, em particular, que abordem responsavelmente as conseqüências traumáticas desses acidentes e divulguem propagandas de comportamentos seguros e responsáveis no trânsito, com a mesma freqüência que divulgam propaganda para a venda de produtos.
Convocamos a mídia para ser nossa parceira na promoção da segurança e paz no trânsito.
Celebridades e o Mundo do Entretenimento
Convocamos as celebridades e o mundo dos entretenimentos a promover ativamente o trânsito seguro. Nosso comportamento é muitas vezes influenciado pelas celebridades do mundo dos filmes, da música, das artes e da televisão. Por isso, clamamos aos artistas e celebridades a perceberem o impacto que seu trabalho pode ter sobre os jovens. Pedimos que sirvam como modelos, promovendo comportamento seguro no trânsito, não somente enquanto atores, mas também em suas vidas cotidianas.
Nossa atitude faz a diferença!
Para concluir, declaramos nosso compromisso em buscar ativamente as exigências dessa carta, para assegurar seu impacto. Não permitiremos que seja apenas tinta sobre o papel!
Brasília, 25 de abril de 2007
Assinam:
GRUPO EDUCANDO PARA A VIDA;
AFRO-ATITUDE / UNB;
PROJOVEM GUARÁ / DF;
UNIÃO BRASILEIRA DOS ESTUDANTES SECUNDARISTAS / UBES
UNIÃO BRASILEIRA DOS ESTUDANTES / UNE;
GRUPO INTERAGIR / DF;
MOVIMENTO DOS ADOLESCENTES DO BRASIL / MAB;
CENTRAL ÚNICA DAS FAVELAS / CUFA/DF;
NÚCLEO DE JOVENS ORGULHO IRREVERENTE / DF;
CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE / CONANDA.