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Migração da violência preocupa especialistas

Aumento da mortalidade nas Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e nos municípios de pequeno porte, com menos de 20 mil habitantes, onde há precariedade ou ausência de transporte público e precariedade de fiscalização”.

Artigo publicado pelo Senado na revista « Em discussão », em número especial, com título « Explosão de motos e mortes » de Novembro 2012 (página 30).

As verdadeiras causas ainda podem ser tema de debate e pesquisas científicas, mas o crescimento da mortalidade por acidentes de motociclistas nas cidades menores é causa de grande preocupação, como reconheceram os debatedores no Senado. Estudo do Ministério da Saúde de 2008 já mostrava que a violência no trânsito está migrando das cidades maiores para as menores.

Em 1990, a mortalidade nos municípios com até 20 mil habitantes (13 mortes por 100 mil habitantes) correspondia à metade da registrada naqueles com população acima de 500 mil pessoas. Dezesseis anos depois, a situação se inverteu. Nas grandes cidades, que ainda concentram 30% das mortes, a taxa caiu para 15,8 mortes por 100 mil habitantes, enquanto nas menores chegou a 19,7 mortes para cada 100 mil habitantes. As outrora tranquilas cidades do interior viram a taxa de mortalidade crescer a um ritmo até oito vezes maior.

“O crescimento da população nas pequenas cidades, de apenas 12%, não explica a explosão das mortes no trânsito verificada no período”, diz Eduardo Biavati, especialista em segurança no trânsito.

"Asianização" do trânsito

No interior do país, conta Biavati, as motos passaram a representar 60%, 70% e até 80% do total de veículos. “É quase um processo de asianização do trânsito brasileiro. Vale lembrar: no Vietnã e em vários países asiáticos, 90% da frota é de motocicletas”, completou o especialista.

Recente levantamento realizado pelo IBGE, em parceria com o Denatran, apontou que, das dez cidades com maior índice de motos por habitantes, apenas uma (Palmas) é capital de estado. A campeã foi Ji-Paraná (RO), com 116 mil pessoas e uma proporção de 26,4 motos para cada 1.000 (veja o infográfico ao lado).

“Verificamos o aumento da mortalidade nas Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e nos municípios de pequeno porte, com menos de 20 mil habitantes, onde há precariedade ou ausência de transporte público e precariedade de fiscalização”, disse Marta Maria Alves da Silva, coordenadora da Área Técnica de Vigilância e Prevenção de Violências e Acidentes do Ministério da Saúde.

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De fato, a análise do IBGE e do Denatran indicou que cidades do interior carentes em infraestrutura de transporte, porém experimentando um boom econômico, são as mais presentes na relação. Um exemplo é Birigui (SP), quarta colocada com 24,6 motos por mil habitantes. As indústrias locais empregam em torno de 18 mil pessoas, mais de 60% do total, e a grande maioria optou pela motocicleta como forma de ir e voltar do trabalho.

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Caso pernambucano

Pesquisa elaborada pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do Estado de Pernambuco também comprovou que a incidência de mortos em acidentes no interior chega a ser até dez vezes maior do que na capital. No Perfil da Mortalidade de Acidente de Motos em Pernambuco, de 2010, o DER indicou que as motos compõem a segunda maior frota de veículos registrados no Detran (29,3%), mas em 63% dos municípios pernambucanos, elas já são mais numerosas do que os carros.

Naquele estado, os municípios com os maiores índices de acidentes e com maior possibilidade de ocorrências fatais são justamente os pequenos, com menores taxas de crescimento urbano e com baixo PIB, como indicou trabalho publicado pelo Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

As conclusões de um trabalho de doutorado em Saúde Pública formaram um perfil dos municípios com maior chance de apresentarem elevados coeficientes de mortalidade por acidente de moto. Eles têm em comum fatores associados ao crescimento populacional e à atividade econômica (veja infográfico abaixo). Despontaram cinco áreas, formadas por 16 dos 185 municípios onde o risco é maior, regiões fora do eixo metropolitano, porém de movimentação econômica mais significativa.

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Segundo a tese Epidemiologia dos Acidentes de Trânsito com Foco na Mortalidade de Motociclistas no Estado de Pernambuco: uma exacerbação da violência social, de 2012, do doutor em Ciências Paul Hindenburg Nobre de Vasconcelos Silva, o município de Calumbi, no Sertão do Pajeú, deteve o maior coeficiente de mortalidade, nove vezes maior do que o apresentado por Recife, onde existe um número muitas vezes maior de veículos em circulação.

Para o autor da tese, ações pontuais dirigidas à mudança de comportamento dos motociclistas terão pouco resultado, uma vez que o acidente não está relacionado apenas ao que faz o condutor, mas tem a ver “com o meio e com as regras do mercado estabelecidas por patrões e clientes”.

“Os resultados sugerem que, para se prevenir as mortes por acidentes de motocicletas, é preciso atuar em questões estruturais muito mais do que simples ações concentradas apenas nos aspectos comportamentais dos motociclistas”, conclui Paul Nobre.

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palavras-chave: acidente, moto, capital, interior, estado

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