Imprudência de pedestres aumenta número de acidentes no trânsito
Artigo de Madalena Romeo, O Globo, 26/02/2009.
RIO - Nem só com motoristas imprudentes segue o trânsito na cidade. Os pedestres muitas vezes arriscam a própria vida e a dos outros em troca de alguns poucos minutos. O problema é mais comum do que se imagina, embora não haja estatísticas oficiais sobre o comportamento de quem anda a pé. Em apenas 15 minutos, a equipe do GLOBO flagrou 21 pedestres atravessando a pista de mão-dupla fora da faixa de pedestres na Rua Jardim Botânico, altura da Rua Frei Veloso. É mais do que uma imprudência por minuto. A poucos metros do local, uma jovem de 23 anos morreu atropelada ao fazer o mesmo há um mês. A polícia deve pedir o arquivamento do inquérito, porque o maior culpado foi a própria vítima.
Na Praça da Bandeira, o problema se repete. Várias pessoas atravessam as pistas de alta velocidade embaixo da passarela. Atropelamentos são freqüentes no local. Até em rodovias, como a RJ-104, as pessoas insistem na travessia insegura. Foram 38 flagrantes em 20 minutos. São adultos levando crianças, idosos com bengala correndo por entre os carros e muita gente correndo para chegar do outro lado da rua.
Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) revelam que a participação de pedestres em acidentes nas rodovias federais do estado do Rio em 2008 aumentou 50% em relação a 2007. No ano passado, foram 470 acidentes, com 418 pessoas feridas e 145 mortos, envolvendo atropelamento de pedestres.
A maioria dos acidentes graves ocorre entre quinta-feira e domingo, durante a noite. A PRF aponta a falta de atenção, falta de educação, imprudência e a ingestão de bebida alcoólica - não só dos motoristas como dos pedestres - como os principais responsáveis pelo grande número de mortes nas estradas.
Embora não pareça, é grande também o risco de atravessar uma estrada por entre os veículos durante um engarrafamento. Muita gente é atropelada na BR-101 porque atravessa na frente de um ônibus e não vê o carro andando na outra pista.
Além de atravessar onde não é permitido, os pedestres ainda costumam correr e utilizar o fone de ouvido, o que aumenta ainda mais o risco. Deste modo, o pedestre perde mais uma orientação no trânsito que é a auditiva.
- Correr ainda é pior. Significa que o tempo é curto para a travessia. Além disso, são maiores as chances de tropeçar e cair - ressalta Fernando Moreira, especialista em medicina de tráfego.
Entre as desculpas, os pedestres apelam até na fé em Deus: - Quem tem Jesus no coração está salvo - argumenta o aposentado Hélio Jesus dos Santos, de 67 anos, após confessar que frequentemente atravessa a BR-101 sem usar a passarela.
Segundo o Detran, 7.578 pedestres foram vítimas de atropelamentos em 2007 no estado do Rio. A faixa etária mais atingida é a maior de 70 anos. Mais de dois pedestres morreram por dia. Dos 921 mortos, pelo menos 11 foram responsáveis pelo acidente de acordo com os registros na delegacia. E com as 6.657 vítimas não-fatais, a imprudência de 198 provocou o atropelamento. O Detran, no entanto, ressalta que, na maioria dos casos, a responsabilidade dos pedestres, principalmente dos que morreram, não é registrada. Em 2008, foram 2.927 atropelamentos com 340 mortes somente no primeiro semestre. Os dados do restante do ano ainda não foram computados pelo órgão.
A Associação Brasileira de Pedestres (Abraspe) informa que quem anda a pé corresponde a 30% do número de mortos em acidentes de trânsito no Brasil. E cerca de metade dos pedestres que morreram em acidente de trânsito estava alcoolizada.
- Muitas vezes o pedestre julga que o motorista ao vê-lo vai reduzir a velocidade, mas é comum o condutor não ver o pedestre - ressalta Fernando Moreira.
Nem sempre a falta de informação é o problema. Após ser flagrada atravessando por entre os carros e ter feito um taxista parar para que ela atravessasse no Largo do Machado, a professora aposentada Luzimar Tavares, de 64 anos, fez mea-culpa. - Foi displicência minha mesmo. Estava com pressa. A maior prejudicada pode ser eu mesma - desculpa-se.
O presidente da Abraspe reconhece que os pedestres são imprudentes como os motoristas e os brasileiros em geral. Para Eduardo Daros, é uma questão de valores. - Os maiores infratores são os que mais conhecem o Código Nacional de Trânsito - afirma.
Para Janete Bloise, coordenadora de educação no trânsito do Detran-RJ, somente quando a pessoa, seja pedestre ou motorista, tem consciência da sua vulnerabilidade no trânsito, ela começa a fazer a sua parte.
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