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Educação para não precisar de socorro no Piauí

Na cidade de Socorro do Piauí, no interior do estado, não há acidentes com vítimas. Redações e desenhos de jovens mostram grande consciência.

Marina Lemle

Art Apetrans Out 2013 imagem 1 R1

“Diante de tantas vidas perdidas, nos perguntamos como frear estas tragédias. Uma boa resposta exige que identifiquemos qual é mesmo a raíz deste problema que afeta a vida de tantas pessoas.”

Já no começo, a redação de Samuel Gomes, do oitavo ano da escola Francisco Teixeira, em Socorro do Piauí, mostra o entendimento do jovem sobre a profundidade do problema da violência no trânsito. No parágrafo seguinte, ele desenvolve:

“Vivemos cada vez mais um modelo de transporte e mobilidade que oferece todos os incentivos para a locomoção por meio do automóvel. Por que não dar prioridade a metrôs, trens, corredores de ônibus e ciclovias que garantam a qualidade de vida acima dos interesses econômicos de algumas indústrias?”

E arremata: “O que se criou, na verdade, foi uma ‘cultura do carro’, sem nos darmos conta de que inventamos uma ‘máquina de morte’, que é o sistema no qual vivemos.”

A redação foi uma das vencedoras de uma gincana escolar realizada com alunos do Ensino Fundamental II de cinco escolas de Socorro do Piauí durante o “Movimento em combate à violência e acidentes na promoção da saúde”, promovido pela Associação Piauiense de Educação no Trânsito (Apetrans) de 19 a 24 de agosto.

Situada no centro do Piauí, a 416 km de Teresina, Socorro do Piaui é uma das 37 cidades contempladas no estado com o projeto do Ministério da Saúde conhecido como Dant (Doenças e Agravos Não Transmissíveis), que tem como um dos tópicos violência e acidentes. A cidade tem índice zero de acidentes com vítimas, o que se explicaria, segundo Ricardo Josellington Borges, da Apetrans, pelo policiamento ostensivo implantado e as ações de educação promovidas pela Prefeitura através da Associação, que atua na cidade há dois anos.

“Andar sem capacete lá não existe”, afirma. Mesmo assim, o trabalho com jovens é fundamental, uma vez que nas cidades do interior os maiores envolvidos em acidentes de trânsito são jovens, sendo mais de a metade menores de idade.

Os alunos das cinco escolas foram divididos em equipes e fizeram redações individuais com tema livre e desenhos coletivos sobre trânsito. Depois de trabalharem informações sobre os usuários, normas de trânsito e sinalização, os jovens são incentivados a redigir um texto com no mínimo 15 linhas e a desenharem em grupo um cenário de trânsito de livre escolha.

“A redação, como atividade individual, é uma ótima ferramenta de avaliação, pois através das linhas percebemos não só a compreensão obtida, mas se o jovem possui uma opinião. Já o desenho expressa a visão que o grupo ou indivíduo – já que um pode representar a todos - tem sobre o trânsito, bem como suas expectativas”, explica.

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De acordo com Borges, atividades em conjunto favorecem a conscientização do jovem sobre a importância de dar atenção à seguranca no trânsito como uma responsabilidade individual e coletiva, tornando-os mais exemplares em suas ações. Além disso, ao serem envolvidos nas atividades com a comunidade, tornam-se multiplicadores.

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Os jovens ainda assistiram uma vídeo-palestra sobre os atores do trânsito: pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas. Após cada vídeo, questões eram colocadas. 

Também foram realizadas atividades de rua e o jogo “Labirinto do Trânsito”. Atores do Grupo de Teatro de Teresina realizaram dramatizações. A escola vencedora da gincana foi a Sinobilinon Vieira, e a equipe ganhou um passeio a um parque aquático. Veja as redações e desenhos vencedores.

O evento mobilizou cerca de 400 alunos, 20 voluntários e 150 participantes de um seminário de dia inteiro que reuniu educadores e a comunidade na busca por soluções para os problemas apresentados. Além dos acidentes e da violência no trânsito, foram discutidos temas como a violência doméstica, sexual, bullying, preconceito e, por fim, álcool e drogas. Os participantes foram convidados a dar depoimentos e fazer comentários.

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“Sendo estes temas não tão distantes da realidade do trânsito, convidamos especialistas em cada área para expor à comunidade dados estaduais e nacionais, vídeos e debates. Cada tema era introduzido com uma peça teatral envolvendo a comunidade de maneira cômica, mas também emotiva. Ao final foi realizado o sorteio de prêmios, o que serviu de atrativo para a participação da comunidade”, revela.

Segundo Borges, o trabalho em Socorro do Piauí foi um piloto que serviu para testar a receptividade da comunidade sobre os temas abordados. “Queriamos saber se as atividades despertavam o interesse e se mobilizavam à ação”, conta.

A Apetrans foi fundada em 2008 por Borges e mais três amigos - Jardiel Amorim, Rafael Sanzio Borges e Antonio Silva - com o objetivo reunir diferentes profissionais, vítimas e familiares para trabalharem a mudança de comportamentos no trânsito. “O propósito é facilitar o processo de educaçao criando materiais lúdicos e paradidáticos para tornar o assunto mais interessante, já que ele já é, por natureza, impopular. Ninguem gosta de ser puxado a orelha!”, diz.

O principal apoio vem do estado, através do Detran, mas prefeituras também apoiam as ações. “Em quase seis anos já atendemos, sozinhos ou em parceria, cerca de 25 cidades, incluindo a capital. É incontável o numero de pessoas alcançadas”, conta.

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A expectativa agora, segundo Borges, é levar esse formato de proposta a outras cidades contempladas com a DANTs e disponibilizar alguns dos materiais criados e em criação para outras cidades e o público em geral.

Mais informações:

Apetrans

palavras-chave: APETRANS, PIAUÍ, educação, trânsito, DETRAN