Falta educação para o trânsito
No trânsito, mais do que vias impecáveis, equipamentos de segurança ou fiscalização, é preciso ter educação.
Artigo publicado pelo Senado na revista « Em discussão », em número especial, com título « Explosão de motos e mortes » de Novembro 2012 (página 76).
No trânsito, mais do que vias impecáveis, equipamentos de segurança ou fiscalização, é preciso ter educação. Os participantes dos debates no Senado entendem que as campanhas atuais são insuficientes e que é preciso mudar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), para incluir no currículo dos ensinos fundamental, médio e até superior as regras de boa conduta e convívio nas vias públicas, garantindo a continuidade do projeto de educação para o trânsito.
Quem defende a proposta entende que essa é uma maneira de a educação para o trânsito ser tratada de uma forma global, para que o cidadão entenda a necessidade de respeitar o espaço do próximo e as normas gerais de convivência social. “Educação de trânsito não é distribuir panfletos na sinaleira, não é fazer algumas campanhas extemporâneas. Educação de trânsito é mudar os valores das pessoas, porque não se educa só para o trânsito. A pessoa desajustada no clube social, na fila do banco, não será educada para o trânsito”, argumenta Sérgio Luiz Perotto, consultor da Confederação Nacional de Municípios (CNM).
Maria Cristina Hoffmann, do Denatran, af irma que o Conselho Nacional de Educação entende que a questão do trânsito seja trabalhada de forma interdisciplinar, de acordo com a realidade de cada cidade ou estado. “O Denatran desenvolveu materiais educativos que foram distribuídos gratuitamente para todas as escolas estaduais e municipais, como parte dos projetos Trânsito Consciente, Viva o Trânsito e Transitando”, acrescentou a representante do órgão, informando que a maior parte dos recursos do DPvat tem sido sistematicamente contingenciada (leia mais na pág. 46 e na pág. 56 ).
Maria Cristina esclareceu ainda que o projeto Trânsito Consciente, criado pelo Denatran, tem carga horária de 90 horas e é direcionado às escolas de ensino médio que implantem projetos de educação de trânsito. “A dificuldade é que as escolas, como têm autonomia no seu projeto político-pedagógico, muitas vezes não veem a importância de trabalhar a educação de trânsito.
Fica a cargo dos centros de formação e dos Detrans desenvolver projetos educacionais que possam apoiar as escolas nessas ações”.
DERs e Detrans levam ensinamentos às escolas
Enquanto a inclusão da educação de trânsito no currículo das escolas é apenas uma proposta, Detrans e DERs dos estados promovem suas próprias iniciativas para preparar os futuros motoristas para o convívio nas ruas do país.
No Distrito Federal, por exemplo, os dois órgãos possuem programas de educação e treinamento para estudantes. O Detran promove o Programa Transitando nas Escolas, que leva até os colégios públicos e privados agentes do órgão, um grupo de teatro e um minicircuito que as crianças podem percorrer a pé, simulando situações de trânsito, como a faixa de pedestres.
Em uma iniciativa mais ambiciosa, o DER do Distrito Federal mantém desde 2004, no Parque Rodoviário, a 24 quilômetros do centro de Brasília, a Transitolândia, um circuito em que pequenos carros podem circular, com sinais de trânsito, pontos de ônibus, passarelas e faixas de pedestres de verdade.
A cada dia, ônibus do órgão levam para o local crianças do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, que também assistem a palestras e outras atividades como dramatizações e músicas sobre situações no trânsito — e ainda lancham no parque.
Multiplicadores
“Sabemos que o público conscientizado em campanhas direcionadas a adultos é menor que entre as crianças”, afirma a gerente de campanhas educativas do DER-DF, Heliane Nava. Como resultado, ela destaca que as crianças se transformam em multiplicadores das informações que recebem e até fiscalizam os seus pais, em muitos casos a primeira geração de condutores da família.
Se sobram experiências e referências a motoristas de carros, pedestres e até ciclistas, não há, na Transitolândia, experiências direcionadas ao comportamento dos motociclistas nas vias públicas, ainda que as motocicletas estejam invadindo as ruas brasileiras, compradas especialmente por pessoas das classes C, D e E.
A agente Nava reconhece que há dificuldade de apresentar um veículo motorizado sobre duas rodas para as crianças, já que é necessário equilíbrio e treinamento prévio, e nem assim os riscos seriam minorados.
Para voltar no início do documento, clique aqui
Para baixar a revista em formato pdf, clique aqui