Motociclista: vulnerável, negligente e em risco
Andar de motocicleta é a forma mais arriscada de transitar.
Artigo publicado pelo Senado na revista « Em discussão », em número especial, com título « Explosão de motos e mortes » de Novembro 2012 , página 10.
Entre todas as formas de transitar pelas ruas e estradas brasileiras, andar de motocicleta é a mais arriscada. Essa tendência vem se acentuando na última década, quando o número de motociclistas mortos superou inclusive o de pedestres, grupo tradicionalmente mais vulnerável no trânsito nacional.
O estudo Mapa da Violência 2012 mostrou que a mortalidade por veículo entre as motocicletas foi 146,3% maior que a dos automóveis nos últimos 10 anos. Já com o automóvel e com os pedestres aconteceu o inverso: a frota de carros aumentou 118% e as vítimas de acidentes com automóvel, 72%, enquanto o número de pedestres mortos caiu 15,6%.
“Se excluíssemos os motociclistas dos cálculos, veríamos que entre 1996 e 2010 o número de mortes no trânsito cairia de 33,9 mil para 27,5 mil [por ano, em média], o que representa uma diminuição de 18,7% nesse período. As taxas cairiam mais ainda: de 21,6 para 14,4 óbitos para cada 100 mil habitantes. Isto é uma queda bem significativa, de 33%.
Na atualidade, as motocicletas constituem o fator impulsor de nossa violência cotidiana nas ruas, fato que deve ser enfrentado com medidas estratégicas adequadas à magnitude do problema”, afirma Julio Jacobo Waiselfisz, diretor de pesquisa do Instituto Sangari.
Pior é que o ascendente risco de morte em motocicleta afeta principalmente a população entre 18 e 24 anos do sexo masculino.
“Se nada for feito, a tendência é que essas mortes continuem aumentando, em ritmo de 4% ao ano, trazendo elevados custos sociais, financeiros e emocionais”, diz Waiselfisz.
Nota: O Instituto Sangari foi autor do estudo « Mapa da Violência 2012 » por conta do Ministério da Saude.
Dois em cada três acidentados têm lesões
Os dados do Mapa da Violência 2012 são reforçados por pesquisa realizada em 1992 pela Abramet com motociclistas de São Paulo. De 800 motociclistas entrevistados, 365 (45,6%) tinham se envolvido num total de 552 acidentes nos seis meses anteriores à pesquisa. Desses, 69% tinham levado a lesão corporal ou doença do motociclista e 50%, do carona. “Desde então, esses índices vêm se confirmando”, afirmou no Senado Dirceu Rodrigues Alves Junior, da Abramet.
Além das lesões causadas por acidentes, Alves Junior destacou outros riscos à saúde a que o motociclista está sujeito, especialmente nas longas horas que passam sobre o veículo:
• riscos físicos: ruído elevado, variações térmicas, vibração (que leva a desgastes articulares, na coluna vertebral, hérnia de disco etc.).
• riscos químicos: pela inalação de poeira, fuligem, gases, vapores.
• riscos ergonômicos: por conta da postura sobre a moto, que pode levar a lesões por esforços repetitivos.
• riscos biológicos : contato, principalmente de nariz, boca e olhos, com micro-organismos presentes no ar e no solo.
Ou seja, além dos acidentes que causam lesões principalmente nos membros inferiores, na coluna e na cabeça (veja mais a partir da página 23), muitos motociclistas podem desenvolver doenças crônicas, ficar incapacitados e até mesmo morrer por conta do uso prolongado do veículo de duas rodas. Esses dados, porém, não entram nas estatísticas, já elevadíssimas, de mortos e vítimas de acidentes com motocicletas atendidos no sistema de saúde, já que a Organização Mundial da Saúde (OMS) define uma fatalidade de trânsito como “uma pessoa morta imediatamente ou nos 30 dias subsequentes por conta de um acidente de trânsito”.
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