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Cercas e alambrados: exemplos

Capítulo 6.3 do Manual de Segurança Rodoviária de Adriano Murgel Branco

Um dos graves problemas das rodovias brasileiras é o acesso fácil de pessoas e animais às pistas. Em muitas estradas o acesso de pessoas é até autorizado, pelo Código de Trânsito Brasileiro; mas nenhuma tem proteção contra a invasão de animais. Isto nos tem permitido dizer, enfaticamente, que nenhuma rodovia brasileira tem o padrão de segurança daquelas do primeiro mundo.

O número de pessoas acidentadas e mesmo mortas, por haverem atropelado, com seus veículos, um boi ou um cavalo na pista, não é nada desprezível. Também o número de acidentes ocasionados nas pistas por pequenos animais que desviam a atenção e o curso dos motoristas é bastante significativo.

A solução para esses problemas é a cerca ao longo dos limites da faixa de domínio, dos dois lados, como se fazia no passado. Hoje é raro ver a estrada cercada, até porque, dizem os responsáveis, o material é roubado. Na verdade, tem faltado fiscalização, o que poderá se intensificar, doravante, pelo menos nas rodovias concedidas, que são as de maior densidade de tráfego e maior velocidade de circulação.

Quando da construção da Via dos Imigrantes, a DERSA cercou as pistas com alambrados plastificados, no limites da faixa de domínio. Foi incontrolável o roubo, até por que a empresa não preparara uma fiscalização apropriada para isso.

Mais ou menos na mesma época, o DNER se preocupou em impedir a travessia de pedestres pelas pistas da Rodovia Presidente Dutra, nos trechos onde havia passarelas. Optou por colocar alambrados no canteiro central, como forma de economizar o material que deveria ser, a rigor, colocado às margens da pista. Mas também era difícil adotar esta última solução, uma vez que era permitido às pessoas transitar pelos acostamentos. E, finalmente, diziam os engenheiros, os eventuais depredadores do alambrado ficariam muito mais expostos à fiscalização, no canteiro central.

Também ai a experiência durou pouco. A cada noite, aparecia um novo corte nos arames, abrindo uma passagem. Foi quando ocorreu a idéia de aplicar tela soldada, feita com fios de alta resistência e galvanizados a quente.

Sugeri, então, que se desse mais um passo: se estudasse um distanciamento entre os fios verticais que permitisse à tela atuar, também, como elemento anti-ofuscamento. Coube ao Instituto Mauá de Tecnologia efetuar o estudo luminotécnico e de corrosão acelerada, para atingir os objetivos do anti-ofuscamento e da resistência à intempérie, pois o próprio fabricante não tinha a experiência de soldar os fios zincados.

 

figura 2

A experiência foi muito bem sucedida, tendo sido obtida uma tela de múltipla função, muito difícil de ser cortada, pois o aço especificado foi o CA-50.

Para completar o estudo, desenvolvemos um sistema de sustentação da tela utilizando perfis abertos de aço, zincados, em que a tela é parafusada com os mesmos elementos de parafusamento das defensas, para aproveitar um material já desenvolvido. Tal concepção permitiu aplicar centenas de metros de alambrados por dia, com uma só equipe, aproveitando o fato muito favorável de ser a tela fabricada em processo contínuo e fornecida em rolos.

 

 

figura 1

A colocação de cercas e/ou alambrados nas pistas não oferece, enfim, qualquer dificuldade técnica; eventualmente exige fiscalização quanto à sua conservação, como faz qualquer fazendeiro que deseje delimitar a sua propriedade. Aliás, exigir dos proprietários de terras lindeiras que cerquem as suas propriedades é um passo importante.

O que tem faltado é a decisão de investir nesse equipamento, que parece ser acessório, mas, na verdade, condiciona a velocidade de circulação e, com isso, a própria capacidade da via. Por outro lado, evita acidentes leves ou graves que representam certamente custos maiores do que o da sua implantação.

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