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Teresina (PI) reduz em 30% o número de mortes no trânsito em 2011

Motociclistas superlotam Hospital de Urgências da capital piauiense, mas resultados do Projeto Vida no Trânsito já ultrapassam as metas

Marina Lemle

Não bastassem os dramas pessoais e familiares, as vítimas de acidentes com motocicletas no Piauí tornaram-se um problema grave de saúde pública. Em 2011, foram atendidas no Hospital de Urgências de Teresina (HUT) 12.259 vítimas de acidentes com motos, de um total de 15.698 feridos no trânsito – o equivalente a 78%. Os leitos e até corredores do hospital estão constantemente ocupados por vítimas do que vem sendo chamado de “epidemia de motocicletas”.

A motocicleta é o veículo mais comum no Piauí: eram 317.143 em 2011, correspondendo a 48% do total da frota de mais de 650 mil veículos. Só em Teresina, há 1.843 postos de mototáxi. Segundo o Detran/PI, em 2011, foram registrados no estado 3.426 acidentes com motociclistas, sendo 1.062 na capital, 1.424 no interior, 754 em rodovias federais e 186 em rodovias estaduais. De um total de 801 mortos no trânsito no estado, 412 eram motociclistas, a grande maioria homens de menos de 30 anos.

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São estatísticas comparáveis às de países em guerra. A boa notícia é que, apesar dos índices alarmantes, o número de mortos e feridos graves está em queda. Em Teresina, o número de vítimas fatais caiu de 225 em 2010 para 161 em 2011 – uma redução de 30%, o que representa 69 vidas preservadas.

A redução se deve às ações do projeto Vida no Trânsito em Teresina. O projeto é uma parceria do Ministério da Saúde com a Organização Mundial de Saúde e faz parte dos esforços internacionais para reduzir em 50% a mortalidade no trânsito no mundo até 2020, quando se encerra a Década de Ações para a Segurança do Trânsito instituída pela ONU.

Os pilares da Década da Segurança Viária são o fortalecimento dos órgãos gestores de trânsito, a segurança do sistema viário e dos veículos, comportamentos seguros e o atendimento e assistência de saúde pós-traumas.

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O Vida no Trânsito prevê a articulação de diversos órgãos públicos em gabinetes de gestão para desenvolver ações integradas. A meta inicial para 2011 do projeto em Teresina era reduzir a mortalidade e feridos graves em 7%. O resultado foi de 30% a menos de mortes. Para a Coordenadora de Educação no Trânsito da Superintendência de Trânsito de Teresina (Strans), Audea Lima (foto), o sucesso se deve ao trabalho integrado das instituições com base numa meta, num público vulnerável e na intensificação da fiscalização da Lei Seca na cidade.

A Comissão Intersetorial de Segurança no Trânsito de Teresina, que cria programas e estabelece a meta, é formada pelas seguintes instituições: Strans, Detran-PI, Dnit, PRF, Ciptran, BPRE, FMS, Sesapi, Samu, Hospital de Urgâncias de Teresina, Comissão Semec, Sest/Senat, Uespi, UFPI, Nacional CFC, OAB, CRM, Crea, Semplam, Semcom, Delegacia de Acidentes e Ministério Público Estadual.

O projeto utiliza a metodologia EPP - Estratégia de Proatividade e Parceria – na qual órgãos públicos se integram com parceiros da mídia, ONGs e voluntários para realizar as ações integradas de segurança viária.

Integração, informação e intervenção

A metodologia é baseada em três “INs” - integração, informação e intervenção. “A integração precisa ser desde o processo de coleta de informações com todas as fontes até as intervenções. É esse conjunto que possibilita que as ações possam surtir efeito, pois são intervenções feitas com bases em numeros mais completos”, explica.

Hoje, são cruzados dados da Fundação Municipal de Saúde/Samu, do Batalhão de Policiamento Rodoviário Estadual, da Companhia Independente de Policiamento de Trânsito (Ciptran), da Polícia Rodoviária Federal e da Delegacia de Acidente de Trânsito. As listas de vítimas são submetidas à retirada de duplicidades para identificação de cada vítima e a formação de um banco de dados de vítimas leves, graves e fatais.

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Antes, as ações de trânsito eram embasadas nos dados apenas da Polícia de Trânsito. Não havia um trabalho de coleta de informações - os órgaos dispunham delas individualmente. Exemplo com a primeira análise realizada, referente ao quarto trimestre de 2010: de uma lista de 2.681 vítimas, 87 ficaram mais de 24 horas internadas e 54 vieram a falecer num prazo de 30 dias, o que soma 141 vítimas graves e fatais. A lista de vítimas do Samu identificou 75 vítimas que não haviam sido registradas em nenhuma outra fonte primária.

“O trabalho integrado possibilitou unir as bases de informações da Polícia, do Samu e da Polícia Rodoviária Federal. Os dados do Samu representam 54% do total de vítimas atendidas por acidentes. Esse número e essas informações eram ignoradas pelos gestores da área”, conta Audea.

Novo formulário do Samu tem mais campos de informação

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Além de integrar as bases de dados, também houve uma preocupação em melhorar os dados apurados pelo Samu no local do acidente. O formulário foi reformulado com o objetivo de obter mais informações sobre as vítimas de acidentes, especialmente no que se refere a indícios de álcool e uso de equipamentos de segurança. “Quando a polícia chega no local, geralmente a vítima não está mais lá ou alguém que possa dar a informação. No entanto, quando o Samu chega, ainda há muita informação possível de ser coletada”, explica.

Audea lamenta que ainda haja um grande número de respostas “ignorado” nos campos das informações desejadas. Para melhorar a apuração, serão feitas capacitações com os profissionais de atendimento. O Samu tem 25 equipes de atendimento, 13 ambulâncias, 2 motolâncias, 13 hospitais públicos, 6 hospitais privados, e o Hospital de Urgência de Teresina, com 289 leitos e 26 de UTIs.

A análise dos acidentes graves e fatais trimestrais é feita na Delegacia de Acidentes. Primeiro são identificados os inquéritos e é feita a leitura dos históricos dos acidentes e das conclusões da perícia e do IML. São definidos os fatores que causaram os acidentes, a possibilidade de identificação dos agravantes e os perfis das vítimas. Finalmente, são definidos os pesos e preenchidas as tabelas de análise.

No 1º trimestre de 2011, de um total de 116 vítimas fatais ou graves, 32% morreram e 68% ficaram internadas. A maioria das vítimas (55%) estava em motos, seguida de pedestres (35%).

Programas contra fatores de risco

Os principais fatores de risco dos acidentes fatais em Teresina identificados foram velocidade (35%) e motocicleta (25%), seguidos de problemas de infra-estrutura (10%), visibilidade (10%), comportamento de pedestres (8%) e consumo de álcool (7%). A partir da análise das informações, foram elaborados os programas, com seus respectivos pesos no projeto: o Programa Motociclista, Viva!, de fiscalização e educação, ganhou peso 45%; o Velocidade Legal, de fiscalização e engenharia, peso 30%; e o Álcool Zero, de educação e fiscalização, peso 25%.

“Esses programas foram elaborados para reduzir o numero de vítimas relacionadas à velocidade, ao álcool e ao motociclista. Toda ação de fiscalização e de educação que objetiva mudança de comportamento teve foco nesses fatores de risco. É importante se trabalhar com foco para fiscalizar e promover reflexão acerca desses fatores”, ressalta Audea.

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O objetivo do Motociclista, Viva! é orientar os motociclistas, incluindo os profissionais, para o comportamento seguro ao trânsito. A meta para 2011 foi atingir 2 mil pessoas com abordagens em blitzs e palestras educativas. Também foram produzidos 40 mil exemplares do Manual do Motociclista, 1.500 cartazes, 30 bus-door, um vídeo e um spot (rádio).

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Para a campanha de uso do capacete afivelado, foram produzidos 30 outdoors, 1.500 cartazes e adesivos para 30 mil capacetes. Outras 5.600 abordagens foram previstas para atividades de sensibilização. E atividades educativas em escolinha de trânsito, escolas, associações e empresas atenderam 3.750 pessoas.

Para conter o uso do álcool por motoristas, foram realizadas diversas atividades de fiscalização. Foram feitos 7.713 testes de alcoolemia - um a cada 12 abordagens - que resultaram em 511 autuações (1 a cada 18 testes) e 216 prisões (1 a cada 35). A Operação Salva–Vidas, semanal, realizou uma média de 1.500 abordagens. Três etilômetros adquiridos pela Organização Panamericana de Saúde (Opas) foram entregues ao projeto em Teresina.

Projetos de mobilização social envolveram estudantes, educadores e jornalistas. Foi lançado II Prêmio Cidade de Teresina de Educação no Trânsito, do qual participaram 150 instituições e foram inscritos 670 trabalhos, dos quais 24 receberam prêmios. Na área de educação, também se destacam os programas Saúde na Escola e Escola em Trânsito.

Processo em evolução

A adesão de Teresina ao projeto Vida no Trânsito e as primeiras ações de estruturação começaram em 2010. Em 2011 teve início o processo de coleta e execução de ações e em 2012 estão sendo realizadas melhorias nos processos de coleta e análise de dados. Desde a implementação das primeiras ações é feito o monitoramento da performance, avaliação e reconhecimento, além de uma revisão anual para renovação e expansão do projeto.

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Os resultados são avaliados através de indicadores que permitem avaliar mudanças de atitudes. Segundo Audea, o processo metodológico estabelece que se acompanhem as alterações culturais com base nas ações.

“Só se conseguem resultados finais satisfatórios quando os indicadores intermediarios vão sendo alterados. Ou seja, espera-se reduzir o índice de infrações referentes aos fatores de risco durante o processo. Se o usuário comete menos infrações e há um incremento na fiscalização, significa que ele está mudando seu comportamento”, explica. Ela acrescenta que a meta nesse momento não é reduzir a zero as vítimas, mas sim salvar vidas de acidentes graves e fatais.

Em 2012, todas as ações planejadas e executadas em 2011 estão sendo continuadas. O diferencial são os novos projetos, como a informatização dos órgaos, a capacitação de profissionais, a melhoria das informações no IML e o projeto de educação no trânsito no ensino fundamental, além da própria solidificação do projeto.

“Temos ganho muito em todo o processo, especialmente no que se refere à melhoria do trabalho das instituições e a busca constante de uma integração em todos os aspectos”, relata.

A experiência do projeto Vida no Trânsito em Teresina é importante porque a capital pode ser considerada um laboratório representativo da situação no Nordeste, caracterizada pela invasão das motos. Assim, ações bem sucedidas lá podem servir de exemplo para a implantação de políticas em outras cidades atingidas por “epidemia” similar.

Mais informações:

Projeto Vida no Trânsito em Teresina: Nossos passos rumo a uma cultura de segurança no trânsito – Apresentação de Audea Lima no Congresso Internacional de Trânsito, em julho de 2012, em Porto Alegre.

Projeto Vida no Trânsito Teresina

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