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Infra-estruturas para bicicletas: características gerais

Extrato do manual Travessias Urbanas IPR 2010 (capítulo 4.5.1)

A bicicleta é um meio de transporte que tem crescido de importância nas áreas urbanas. As bicicletas têm sido usadas como meio de ida e volta ao local de trabalho, em combinação ou não com o transporte público. São usadas por crianças em idade escolar. Constituem, também, uma atividade de recreio. Portanto, o planejamento de uma rede viária de uso público deve considerar as necessidades do tráfego de bicicletas.

O projeto deve considerar os elementos de riscos de acidentes para as bicicletas, volumes de distribuição do tráfego, velocidades dos veículos motorizados e locais de travessia. As interseções requerem cuidados especiais, podendo ser exigidas fases de sinal para as bicicletas, proibição de giros à direita com sinal vermelho e marcas no pavimento específicas.

O projeto do alinhamento atende aos mesmos princípios das rodovias mas, devido às características operacionais das bicicletas, há diferenças a serem consideradas. As velocidades são da ordem de 50 km/h, no máximo. A maior facilidade de manobra e as pequenas distâncias de frenagem permitem maior liberdade para o traçado. Os greides, entretanto, são elementos de maior importância. Os ciclistas aceitam greides de 4% a 5% no máximo.

4.5.1 Características gerais e planejamento

a) Espaço necessário

Conforme mostra a Figura 17, ciclistas necessitam de 1,00 m de espaço operacional, para atender apenas à largura que ocupam. Uma largura total de 1,20 m é admitida como mínima para qualquer via destinada a uso exclusivo ou preferencial de ciclistas. Quando as velocidades, os volumes de veículos motorizados e a participação de veículos comerciais aumentam, uma largura mais confortável de 1,50 m é desejável. No que se refere especificamente à faixa percorrida pela bicicleta, quanto maior a velocidade, menos o ciclista se afasta da direção desejada. Em velocidades de 11 km/h, ou mais, um ciclista pode manter sua bicicleta dentro de uma faixa de 0,20 m. Para velocidades menores, faixas maiores são necessárias. Abaixo de 5 km/h precisa-se de 0,80 m.


figura 1

b) Desempenho

Estudos realizados por Pein (Trail Intersection Design Guidelines – Florida Department of Transportation – 1996) fornecem os seguintes valores:

  • Velocidade em terreno plano:

– Valor mínimo para projeto: 32 km/h Velocidade abaixo da qual 85% dos ciclistas viaja: 22 km/h

– Velocidade em descida: 50 km/h

  • Velocidade em subida: 10 km/h
  • Atravessando uma interseção a partir da posição de repouso:

– Velocidade média: 12,7 km/h

– Velocidade, abaixo da qual, 15% dos ciclistas viaja: 10,8 km/h

  • Aceleração a partir da posição de repouso:

– Aceleração média: 1,07 m/s²

– Aceleração dos ciclistas mais lentos: 15% abaixo de 0,74 m/s²

  • Desaceleração

– Máxima: 5 m/s²

– Típica: 1,2 a 2,5 m/s²

c) Tipos de vias para bicicletas

A escolha de um tipo de via para ciclistas depende de muitos fatores, inclusive da habilidade dos usuários, das condições do corredor disponível e dos seus custos. Seguem descrições dos vários tipos.

Pistas compartilhadas

A maioria do tráfego de bicicletas é feito em ruas e rodovias que não são especificamente projetadas para esse fim. Em alguns casos, o sistema de vias pode ser perfeitamente adequado para uso compartilhado de bicicletas e veículos motorizados sem necessidade de sinalização especial. Em outros casos, as ruas ou rodovias podem não ser adequadas e seria inconveniente estimular seu uso, designando-as como vias próprias para bicicletas. Às vezes não há demanda que justifique essa designação, como é comum em ruas residenciais de menor importância.

Algumas rodovias rurais são utilizadas por ciclistas, para turismo, passeios e tráfego entre cidades. Somente devem ser especificamente indicadas para uso de bicicletas, se houver necessidade de garantir continuidade desse meio de locomoção. O desenvolvimento e manutenção de acostamentos pavimentados de 1,20 m, separados por uma faixa pintada branca de 0,10 m a 0,20 m de largura, aumenta, de forma significativa, a segurança e conforto de ciclistas e motoristas.

Ciclofaixas

Denomina-se ciclofaixa parte da pista de rolamento destinada à circulação exclusiva de bicicletas, delimitada por pintura no pavimento e sinalização específica. Essas faixas são reservadas para ciclistas ao longo de vias onde há demanda significativa. Têm como objetivo regulamentar onde os ciclistas e motoristas podem trafegar, disciplinando seus movimentos. Contribuem, também, para aumentar a capacidade das rodovias com tráfego misto de bicicletas e veículos motorizados.

Outro motivo importante para criar faixas reservadas para ciclistas é melhorar sua acomodação, onde as ruas existentes não são suficientes para que trafeguem com algum conforto. Isso pode ser conseguido, reduzindo as larguras das faixas destinadas ao tráfego motorizado ou proibindo estacionamento lateral nas ruas. Além da criação das ciclofaixas, outras medidas são necessárias. As grelhas das sarjetas de drenagem devem ser próprias para a travessia de bicicletas, o pavimento deve ser liso e os sinais de tráfego devem ser próprios para tráfego misto com bicicletas. A manutenção regular das faixas de ciclistas deve ser prioritária, já que não podem andar em vias esburacadas, com vidros quebrados ou com fragmentos de materiais rígidos.

Caso se deseje estimular o uso de bicicletas, esforços especiais devem ser dedicados para assegurar uma eficiente rede viária provida dessas faixas. Contudo, têm que se considerarem as necessidades, tanto dos motoristas como dos ciclistas, na decisão de implantá-las.


Ciclovias

Ciclovias são vias destinadas à circulação de bicicletas separadas fisicamente do tráfego motorizado por canteiros ou barreiras situados dentro da faixa de domínio da rodovia ou em uma faixa de domínio independente. Podem atender também a pedestres, corredores, passeadores de cães, pessoas com carros de bebês, pessoas de cadeiras de rodas, patinadores e outros.

Geralmente as ciclovias devem ser criadas para atender a áreas em que o tráfego de bicicletas não é servido pelo sistema de ruas e existe espaço disponível para sua construção, independentemente de ruas paralelas. Podem servir a finalidades recreativas ou de acesso a locais de trabalho, se o fluxo transversal de veículos motorizados e de pedestres é pequeno. As ocorrências mais comuns são: ao longo de rios, praias, lagos, canais, antigos leitos de ferrovias, campos universitários e parques. Há, também, situações em que é aconselhável considerá-las na elaboração de planos de desenvolvimento. Ciclovias são empregadas, também, para dar continuidade ao tráfego de bicicletas nas interrupções causadas por construção de ruas sem saída, ferrovias e vias expressas, ou para ultrapassar barreiras naturais (rios, montanhas etc.). Embora essas vias sejam projetadas com vistas a garantir a segurança dos ciclistas, têm que se considerarem os demais usuários.

A continuidade da via é muito importante. Segmentos alternados de ciclovias e ciclofaixas ao longo de uma rota são indesejáveis, porque, ao passar de um segmento para o outro, pode ser necessária a travessia de ruas pelos ciclistas. Também é grande o potencial de acidentes ao final de um segmento de ciclovia, quando uma das mãos tem que atravessar a rodovia para chegar a ciclofaixa com mesmo sentido.

d) Seleção de vias para bicicletas

Devem ser levados em conta diversos fatores para a determinação das instalações e do tipo para ciclistas, sua localização e prioridade de implantação. A publicação Selecting Roadway Design Treatments to Accomodate Bycicles – FHA – 1994 fornece orientação para esse fim.

  • Nível de habilidade dos usuários Deve ser levada em conta a habilidade e preferência dos diversos tipos de ciclistas que utilizarão. As vias próximas a escolas, parques e áreas residenciais devem atrair uma percentagem maior de ciclistas infantis e inexperientes do que de ciclistas veteranos.
  • Estacionamento de veículos motorizados A frequência das manobras de estacionamento e a densidade de uso da faixa lateral da via para esse fim afetam a segurança dos ciclistas (abertura de portas e veículos saindo do estacionamento). O estacionamento inclinado, ou perpendicular à via, não é compatível com a utilização segura da faixa de tráfego adjacente por ciclistas, devido a restrições de visibilidade e maior potencial de conflitos com veículos motorizados. Deve ser evitada sua autorização, sempre que possível.
  • Impedimentos físicos – Em algumas áreas há impedimentos físicos à travessia de bicicletas: topografia muito acidentada, rios, ferrovias, vias expressas etc. Nesses casos deve-se avaliar a viabilidade de criar uma paisagem exclusiva para atender ao tráfego potencial de ciclistas.
  • Redução de acidentes – O número elevado de acidentes com veículos motorizados, outras bicicletas e pedestres caracteriza a importância de sua redução. Deve ser estudada a viabilidade de resolver o problema com a provisão de melhoria das condições de segurança do fluxo de ciclistas. A solução pode ser: construção de acostamento, para servir de faixa para tráfego de bicicletas, reserva de uma faixa de tráfego, para uso exclusivo de ciclistas ou construção de uma ciclovia separada da rodovia.
  • Atendimento mais direto – Quando se constata a ocorrência de tráfego elevado de ciclistas entre origens e destinos de grande contribuição na sua formação e o percurso é sensivelmente afastado de uma ligação direta deve-se analisar a viabilidade de uma solução mais conveniente para os usuários.
  • Acessibilidade – Na criação de uma via para ciclistas, deve-se considerar a provisão de acessos frequentes e adequados, especialmente nas áreas residenciais. Acesso adequado, para atender a emergências e veículos de manutenção e serviço, também deve ser considerado.
  • Aparência – A paisagem é uma consideração importante ao longo de uma via, especialmente quando seu objetivo principal é recreativo. Árvores refrescam o ambiente no verão e atuam como quebra-vento.
  • Segurança pessoal – Deve ser levado em conta o potencial para atos criminosos contra ciclistas, especialmente em trechos de uso geral isolados, e a possibilidade de roubos ou vandalismo, em locais de estacionamento.
  • Paradas – Os ciclistas têm um forte desejo natural de manter sua velocidade. Se os ciclistas são forçados a fazer frequentes paradas, podem abandonar a via ou desrespeitar a sinalização e outros dispositivos de controle de tráfego.
  • Conflitos – Diferentes tipos de vias introduzem tipos diferentes de conflitos. Faixas permitidas ou reservadas para ciclistas em uma rodovia resultam em conflitos entre ciclistas e motoristas. Vias proibidas para veículos e de uso comum para pedestres e outros usuários envolvem conflitos entre ciclistas, cavaleiros, pedestres e corredores. Conflitos entre ciclistas e motoristas ocorrem, também, em vias de acesso e interseções.
  • Manutenção – Projetos que facilitam e simplificam os serviços de manutenção melhoram a segurança e a operação. É essencial que exista um programa local ou regional de manutenção de vias destinadas a bicicletas.
  • Qualidade da superfície do pavimento – As vias de bicicletas devem ser livres de saliências, buracos e irregularidades na superfície, para que atraiam e atendam às necessidades dos ciclistas. Dispositivos de drenagem devem respeitar a continuidade da superfície e, se possível, ficar fora da trajetória das bicicletas. As transposições de ferrovias devem ser projetadas para a travessia segura de ciclistas.
  • Caminhões e Ônibus – Devido à sua largura, caminhões, ônibus e veículos com reboque de alta velocidade podem criar problemas especiais para ciclistas. Nos locais em que paradas de ônibus se situam junto a vias de bicicletas, pode haver conflitos com os passageiros embarcando e desembarcando de um ônibus, agravados por defeitos do pavimento mais comuns nessas paradas.
  • Volumes de Tráfego e Velocidades – Para as vias de ciclistas junto a uma rodovia, os volumes de tráfego e as velocidades dos veículos devem ser considerados, além da largura da rodovia. Ciclistas usam frequentemente vias arteriais, porque reduzem a demora e oferecem continuidade para viagens longas. Se as ruas de maior volume de tráfego têm largura adequada para todos os seus veículos, pode ser mais conveniente melhorar essas ruas que as adjacentes. Quando isso não for possível, uma rua paralela próxima pode ser melhorada para atender aos ciclistas, se as paradas são muito poucas e as demais condições da via são adequadas. Quando essa via for melhorada, deve-se tomar cuidado em impedir que o tráfego da via de maior volume não seja desviado para ela. Embora ciclistas menos experimentados prefiram ruas de menor tráfego, deve-se ter em vista que as rotas preferidas podem mudar com o tempo, à medida que a experiência cresce.
  • Pontes e viadutos – Essas estruturas têm um papel importante na travessia de acidentes físicos por bicicletas. Entretanto, algumas delas restringem o acesso de bicicletas e/ou criam situações desfavoráveis para os ciclistas. A mais comum é a redução da distância entre meios-fios na travessia, especialmente quando combinada com greides elevados em ambos os lados. Parapeitos baixos e juntas de dilatação, que podem causar dificuldade de manobra, são outros dos problemas que são encontrados.
  • Condições das interseções – Uma grande proporção das colisões de bicicletas ocorre nas interseções. As vias para ciclistas devem ser selecionadas, de modo a reduzir o número de interseções a atravessar, ou as interseções devem ser melhoradas, de modo a reduzir os conflitos nas travessias. As interseções em nível de grande volume (ou velocidades elevadas) e travessias de meio de quadra devem ser analisadas, tendo em mente as necessidades dos ciclistas, a fim de determinar as melhores condições para os projetos de travessia.
  • Custos/Disponibilidades de recursos – A escolha da solução normalmente envolve uma análise de custos de alternativas. A disponibilidade de recursos pode limitar as alternativas a considerar. É importante, entretanto, que a falta de recursos não resulte em uma solução de má qualidade. A decisão de implantar um sistema de vias para ciclistas tem que levar em conta seu funcionamento a longo prazo, com adequada manutenção. Quando os recursos são limitados, ênfase deve ser dada em melhorias de baixo custo, como estacionamento de bicicletas, remoção de barreiras e obstruções ao tráfego de bicicletas e melhorias das rodovias. A seleção deve ter em mente a maximização dos benefícios por recurso aplicado.
  • Leis e regulamentos federais, estaduais e locais – Os programas de sistemas de vias para ciclistas devem refletir as leis e regulamentos existentes. Essas vias não devem encorajar ou requerer que os ciclistas operem de forma inconsistente com a legislação em vigor. Eventuais alterações que se considerem necessárias nas leis e regulamentos existentes devem ser objeto de tratamento junto às autoridades responsáveis pelos mesmos, mas não devem constar dos programas elaborados.

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