Quase uma morte por mês na faixa de pedestres em Brasília
Artigo publicado no Correio Braziliense em 9/09/2012
Sheila Oliveira / Ana Pompeu
Dados do Detran, obtidos com exclusividade pelo Correio, mostram que sete pessoas perderam a vida até agosto enquanto atravessavam o ponto considerado de segurança para pedestres. Número é quase o dobro do ano passado
Brasília saiu na frente e passou a respeitar a faixa de pedestres antes das demais unidades da Federação. Após 15 anos, as estatísticas revelam números preocupantes. Levantamento do Departamento de Trânsito (Detran), obtido com exclusividade pelo Correio, revela que, até o último dia 31, sete pessoas morreram enquanto atravessavam a faixa no Distrito Federal, o mesmo total registrado em 2010 e quase o dobro do ano passado, quando quatro brasilienses perderam a vida nas mesmas circunstâncias.
A média mensal de mortes nas faixas de pedestres em 2012 já supera a de 2009, ano em que a estatística do Detran aponta 11 óbitos. Para os especialistas em trânsito, o problema se deve à falta de fiscalização, de campanhas educativas e de manutenção dos espaços exclusivos para uso de quem atravessa as pistas a pé. Ainda de acordo com dados do Detran, a maioria dos acidentes nesses pontos ocorrereu em vias pouco movimentadas do DF. Três deles, do total de sete atropelamentos deste ano, foram registrados na Avenida Alagados, em Santa Maria.
De acordo com Renato Azevedo, coronel da reserva da Polícia Militar do DF e um dos colaboradores do Programa Paz no Trânsito ,é preciso voltar a cobrar o respeito à faixa. "Quando iniciamos o programa, em 1997, o foco era a área central de Brasília. As outras regiões não tiveram campanha e fiscalização efetiva e, de repente, as pessoas passaram a adotar a cultura do respeito à faixa em todo o DF. Mas é necessário que haja permanentemente essas duas iniciativas, para que a lei realmente seja cumprida", afirma.
O Correio percorreu seis regiões administrativas - Ceilândia, Núcleo Bandeirante, Plano Piloto, Riacho Fundo, Samambaia e Taguatinga - e flagrou situações irregulares. Em muitos locais, as faixas estão apagadas. O cenário confunde motoristas e pedestres.
O desrespeito também é comum e vem de ambos os lados. Segundo o Detran, em Ceilândia, 30% dos motoristas não freiam o carro para o pedestre passar. No Plano Piloto, esse índice cai para 15%, de acordo com pesquisa feita pelo órgão. Os motoristas que param não aguardam a travessia completa de quem está a pé. No centro de Taguatinga, até um carro de autoescola foi flagrado parando em cima da faixa, obrigando as pessoas a desviarem do veículo.
Por outro lado, não é difícil observar pedestres que atravessam a pista a poucos metros da faixa ou que não dão o sinal mostrando a intenção de passar. A cena é comum em várias cidades, mas, em Ceilândia, mais uma vez, os índices são mais preocupantes. Na região, apenas 33,4% acenam com a mão, contra 67,9% em Sobradinho.
Ameaça
Os motoqueiros também representam uma ameaça. "Eles trafegam pelo corredor para desviar dos carros e não percebem quando os veículos param na faixa. O resultado é uma série de acidentes, como os que ocorrem em Taguatinga. Essa história de que o brasiliense respeita a faixa de pedestre virou mito", diz a aposentada Eloisa Simões, 61 anos, moradora da cidade.
O especialista em trânsito da Universidade de Brasília (UnB) Paulo César Marques acredita que o brasiliense está perdendo a cultura de respeito à passagem de pedestres na faixa. "Falta fiscalização de um modo geral e não só nas regiões afastadas do centro de Brasília", garante. "Os novos motoristas não têm o hábito de respeitar a lei, por isso a necessidade de investir em campanhas educativas durante todo o ano e não só em períodos sazonais", acrescenta.
A campanha Paz no Trânsito, iniciada em 1997, teve adesão de grande parte dos brasilienses. O programa foi desenvolvido pelo Detran, BPTrans e sociedade civil, e contou com apoio do Correio. A iniciativa contribuiu para conscientizar os motoristas sobre a necessidade de dar prioridade para os pedestres quando esses atravessam na faixa.