• Pesquisar:

Menu superior



Vias Seguras / Os acidentes / As vítimas de acidentes de trânsito / As lesões causadas pelos acidentes de trânsito / Amputados são maioria entre vítimas de trânsito atendidas na ABBR





Amputados são maioria entre vítimas de trânsito atendidas na ABBR

Dados das unidades de amputados, de trauma raquimedular e de trauma crânio-encefálico da instituição ajudam a compreender o cenário da reabilitação no Rio de Janeiro

Marina Lemle

Estat ABBR Jan 12 Imagem1

Referência em reabilitação de grandes lesados no Rio de Janeiro, a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR) atendeu, em 2010, 249 vítimas de acidentes de trânsito, o que representa cerca de 13% do total de 1.884 pacientes atendidos em consultas médicas naquele ano. A pedido da Associação Por Vias Seguras, a ABBR forneceu informações sobre estes pacientes, que foram atendidos em três unidades: de amputados, de trauma raquimedular e de trauma crânio-encefálico.

A grande maioria das vítimas de trânsito atendidas em 2010 – 186 das 249, ou quase 75% - é homem. A lesão mais comum é a amputação de membros inferiores.

Estat ABBR Jan 12 Imagem2

Do total de vítimas, 136 - ou 55%, mais de a metade - eram amputados. Eles representaram 18% do total de 763 pacientes recebidos na Unidade de Amputados.
Na Unidade de Trauma Raquimedular, chegaram 60 pessoas, ou 24% do total de vítimas do trânsito. Eles representaram 26% dos 231 pacientes recebidos na unidade em 2010.
Outros 53 pacientes vitimados no trânsito – 21% do total - tiveram traumatismo crânio-encefálico e representaram 6% do total de 890 pacientes da unidade.
Das 136 amputações por acidentes de trânsito, 53 foram consequência de atropelamento, 50 por acidente de moto, 19 por acidente de automóvel, 13 de atropelamento por trem e um por acidente com triciclo. As pernas são os membros mais atingidos, por ficarem mais expostos, principalmente no caso de motociclistas.
Dos 60 pacientes que sofreram traumas raquimedulares em consequência do trânsito, 35 foram por acidente de carro, 16 de moto, seis por atropelamento e três por acidentes com veículos não motorizados. As lesões principais do trauma raquimedular são a paraplegia ou paraparesia e a tetraplegia ou tetraparesia. Na paraplegia e na tetraplegia, o paciente não tem movimentos da cintura para baixo ou do pescoço para baixo, dependendo da altura da lesão na coluna - quanto mais alta, maiores os comprometimentos. A paresia (para ou tetra) é quando há uma lesão incompleta, comprometendo a força dos movimentos.
Dos 53 traumas crânio-encefálicos, 19 foram causados por atropelamento, 18 por acidente de carro e 16 por acidente de moto. A maior sequela de grandes lesões na cabeça é a hemiplegia - paralisação de todo um lado do corpo –, além de distúrbios de memória e de fala.

Estat ABBR Jan 12 Imagem3.R1

Numa leitura por tipo de acidentes, conclui-se que, das 249 vítimas de trânsito atendidas em 2010 na ABBR, 82 acidentaram-se em motos, 78 foram atropeladas (sem contar as 13 vítimas de trem), 72 sofreram acidentes em carro, três em veículos não motorizados e um em triciclo.

Estat ABBR Jan 12 Imagem4.R1

Pessoas por trás dos números

De acordo com a médica fisiatra Ana Franzoi, coordenadora de ensino e pesquisa da ABBR, as vítimas de trânsito tendem a ser mais jovens e do sexo masculino.
“São pacientes bons de lidar porque são mais fortes, não chegam com outras doenças e se recuperam melhor. Mas, por outro lado, são pessoas que têm suas vidas interrompidas num momento crucial, quando estão estudando ou avançando em suas carreiras”, observa.
Segundo a especialista, as dificuldades que o paciente enfrenta dependem da gravidade da incapacidade. Os pacientes de trauma crânio-encefálico têm alterações cognitivas que interferem no processo de reabilitação, apesar de a parte motora melhorar. Já os pacientes de lesão medular, em grande parte cadeirantes, têm mais dificuldades com transporte, enquanto o amputado tem melhor mobilidade. “Uma pessoa de muleta consegue entrar num ônibus sozinha”, exemplifica.
Ana Franzoi afirma que o atendimento rápido das vítimas de trânsito no local do acidente melhorou bastante com os bombeiros e agora com o Samu, e acredita que ainda pode melhorar mais. Já nos hospitais de emergência, ela critica a falta de especialistas como neurocirurgião, de CTIs e de vagas. Ela diz, porém, que é difícil avaliar se a incapacidade do paciente foi majorada por um mau atendimento hospitalar. Outra questão apontada pela médica como deficiente é o encaminhamento à reabilitação, que deveria começar imediatamente após a alta hospitalar, mas chega a levar um ano para ter início.
De acordo com a fisiatra Leila Menezes de Castro, superintendente médica de reabilitação da ABBR e chefe da unidade de amputados, o impacto financeiro na vida das vítimas e suas famílias é muito grande:
“De uma hora para outra, muda completamente a rotina de vida, a vida familiar, profissional, o equilíbrio econômico. Antes a pessoa tem acesso a tudo, faculdade, trabalho... Depois, se trabalhava formalmente, passa a ser licenciado, a renda diminui, a acessibilidade é dificultada, os gastos aumentam muito, porque passam a incluir remédios, dispositivos especiais para facilitar o dia-a-dia, a contratação de um cuidador ou alguém da família tem que parar de trabalhar para cuidar e acompanhar a pessoa durante esses meses. Tudo modifica, e a tendência é ter que gastar mais tendo menos.”

Quem paga a conta?

Cerca de 70% dos pacientes da ABBR, e quase todos os grandes lesados, são atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além da fisioterapia, o SUS paga outros tratamentos básicos, como psicoterapia, serviço social, terapia ocupacional e fonoaudiologia. A ABBR recebe diretamente do município, que gerencia a verba do SUS.
Uma dificuldade que a ABBR enfrenta é que a tabela do SUS está muito aquém ao trabalho que a ABBR faz com o paciente, segundo a Dra. Leila. Um exemplo que ela dá é a primeira consulta, que leva pelo menos 45 minutos.
“O médico ouve o paciente, os familiares, olha os exames e os laudos, para entender toda a problemática até ali. É um momento muito difícil, em que o médico pergunta como foi o acidente e o paciente tem que descrever tudo que aconteceu, e às vezes isso angustia a família, porque revivem o momento de dor, a história no CTI, na enfermaria... É muito doloroso. O médico precisa orientar muito o paciente e a família”, conta.
A instituição também atende pacientes por planos de saúde e particulares. O problema é que a maior parte dos convênios cobre só a fisioterapia. Outros tratamentos, como hidroterapia e musicoterapia, são um custo particular para o paciente. Nesses casos, ele pode obter reembolso pelo seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT), levando os recibos às seguradoras filiadas ao seguro obrigatório.
O DPVAT é um direito que toda vítima de acidente de trânsito têm, independente da culpa no evento. O pagamento anual é obrigatório a donos de veículos e o seguro oferece três garantias: morte, invalidez e despesas médicas. O valor máximo é de R$ 13.500, pagos em caso de falecimento ou invalidez permanente. O valor decresce percentualmente de acordo com os danos (tabela em anexo).
A ajuda deste seguro é importante, mas insuficiente. “O DPVAT é uma indenização com um valor X, mas os gastos são mensais”, explica a Dra. Leila. Na ABBR, o grande lesado recebe no mínimo seis meses de tratamento, mas o paciente requer atenção especial para o resto da vida.

A ABBR


Fundada em 1954, a ABBR é uma instituição sem fins lucrativos que oferece tratamento de reabilitação para crianças, adultos e idosos, com pequenas ou grandes lesões. Além de tratamento de fisioterapia, terapia ocupacional e médica, a instituição oferece também terapias alternativas, como acupuntura e pilates.
A ABBR foi criada com o objetivo de implantar e desenvolver a reabilitação no Brasil a partir de um conceito da Organização Mundial da Saúde de aplicação de medidas médicas, sociais, educativas e profissionais de modo integrado, a fim de preparar ou readaptar o indivíduo deficiente para que alcance a sua integração total na sociedade.
O Centro de Reabilitação foi inaugurado em 1957 pelo Presidente Juscelino Kubitscheck, e em 1958 a ABBR formou os primeiros profissionais de fisioterapia e terapia ocupacional do Brasil, seguindo os moldes do currículo da Escola de Reabilitação da Universidade de Colúmbia, de Nova Iorque.
Na reabilitação, portadores de grande lesão passam por um programa de tratamento multidisciplinar, no qual são acompanhados por uma equipe de saúde multidisciplinar, que inclui médicos fisiatras, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, musicoterapeutas e assistentes sociais. A equipe tem 13 fisiatras, cada um especializado num tipo de lesão. No programa de treinees, estudantes passam por vários setores, durante um período de seis meses a um ano.
A ABBR tem uma Oficina Ortopédica que produz órteses e próteses, como calhas, coletes, sapatos ortopédicos, palmilhas ortopédicas, entre outros itens. A instituição também possui uma fábrica de cadeiras de rodas, que produz em média cem unidades por mês. A pessoa retira o que o médico indica e o SUS paga, desde que os produtos constem na sua lista.
Em 56 anos, a ABBR atendeu mais de 400 mil pacientes. Hoje, a instituição realiza diariamente cerca de três mil procedimentos terapêuticos e atende aproximadamente 1,6 mil pacientes por dia, dos quais 1.120 são gratuitos. Devido ao grande volume de pacientes atendidos, o banco de dados estatísticos tem um valor bastante significativo para o entendimento do cenário da reabilitação das pessoas portadoras de deficiência do Rio de Janeiro, pois a entidade recebe pessoas de todos os 92 municípios do Estado.

Saiba mais:

Após a tragédia, a vida - Entrevista da médica fisiatra Leila Menezes de Castro, superintendente médica de reabilitação da ABBR e chefe da unidade de amputados

Mais informações:

Site oficial da ABBR.
Relatórios e balanços anuais no site oficial da ABBR.
Relatório anual de 2010 da ABBR

palavras-chave: reabilitação, vítima, ferido, acidente, trânsito, estatística, atendimento, ABBR, lesão, amputado, traumatismo