Como projetar e implementar um padrão de capacete
Essa seção é voltada aos profissionais responsáveis pelo projeto e implementação do programa de capacetes, que o põem em prática e que fazem a campanha. Busca, portanto, introduzir os padrões de capacete do ponto de vista geral. Um exame mais detalhado e técnico dos padrões de capacete deve ser empreendido pelos especialistas técnicos.
3.4.1. Adoção de um padrão
Um dos objetivos de um programa de capacete é elevar a qualidade dos capacetes em uso. Alcança-se isso melhor, assegurando-se que todos os capacetes atendam a um padrão reconhecido de segurança – um que tenha sido provado como eficaz na redução de traumatismos na cabeça. O padrão também deve oferecer garantia de qualidade para o usuário. Precisa, é claro, ser adequado ao trânsito e às outras condições do país, e deve ser flexível o bastante para permitir aos fabricantes a produção de uma gama de modelos e estilos aprovados.
O Módulo 2 descreveu a necessidade de se analisar se há, ou não, um padrão que se aplique à região do projeto, e se esse padrão é obedecido. Algumas perguntas ao se adotar, desenvolver, ou revisar um padrão de capacete incluem:
- Existe um padrão nacional?
- O padrão nacional atende aos requisitos internacionais?
- Faz-se cumprir o padrão e ele é obedecido pelos fabricantes e distribuidores de capacetes?
- Os consumidores estão cientes do padrão?
- Os consumidores preferem capacetes certificados?
Com base nas respostas às perguntas feitas, são possíveis diversas ações:
- Se não existir padrão, os padrões internacionais e regionais existentes devem ser usados como guia para os novos padrões. Entre esses padrões estão a Regulamentação Unece nº 22 (ver Box 3.4), bem como outros padrões de países mais motorizados. Se for elaborado ou adotado um padrão, deve-se levar em conta a situação de trânsito do país em particular – por exemplo, a mistura de tráfego, se veículos de duas rodas compartilham do espaço na via com os de quatro rodas, e o número de veículos não motorizados. Os aspectos técnicos devem ser entregues aos profissionais com experiência especializada, mas ao mesmo tempo, o grupo de trabalho deve examinar outros padrões existentes e adotar componentes apropriados a seu país. De qualquer forma, deve-se buscar insumo dos pesquisadores e dos peritos técnicos no campo dos projetos de capacetes.
- Se o padrão existente for só na forma de padrão industrial, então deve ser aprimorado para um padrão nacional oficial e aprovado pelo governo. O padrão também deve ser revisto para se determinar se reflete apropriadamente a situação atual de trânsito. Deve haver consulta aos fabricantes de capacetes para garantir que estejam cientes do padrão revisto e para buscar seu apoio na produção de uma gama de projetos de capacetes que atendam ao padrão.
- Se existir um padrão nacional, mas, aparentemente, não for eficaz, deve ser examinado. Isto deve envolver verificação se o padrão está regulamentado apropriadamente, se leva em conta os riscos aos motociclistas, se atua como estímulo para melhorar a qualidade dos capacetes, e se isso é entendido pelos consumidores. Se o padrão não tiver eficácia em qualquer dessas áreas, então devem ser tomadas medidas imediatas. Ou o padrão tem de ser revisado, ou precisa haver maior colaboração entre as autoridades e os fabricantes de capacetes, ou então mais educação sobre os tipos de capacete que protegem mais.
Exemplos de padrões de capacetes para motociclistas
3.4.2. Considerações-chave para estabelecimento de padrões
Embora os detalhes dos padrões de capacetes para motociclistas sejam altamente técnicos, e devam ser desenvolvidos por profissionais especialistas na área, o grupo de trabalho deve representar um papel tanto de aconselhamento quanto de apoio.
Ao se estabelecer um padrão de capacete para motociclista, é importante levar em conta as condições locais culturais, climáticas e de trânsito, já que esses fatores irão afetar a disposição dos motociclistas de usar capacetes. Em países recentemente motorizados, geralmente há um ambiente de tráfego misto. Os motociclistas precisam compartilhar as vias com os pedestres e uma diversidade de veículos, inclusive carroças puxadas por animais, carros, ônibus e caminhões. Essas várias formas de transporte apresentam, todas, riscos às pessoas em motocicletas e deve-se tê-las em mente ao se trabalhar um padrão.
Também deve ser feita consulta aos fabricantes e distribuidores de capacete para garantir que o padrão não seja tão rígido a ponto de restringir a produção e disponibilidade. Seus pontos de vista devem refletir um padrão que leve a capacetes que ofereçam boa proteção e que estejam disponíveis em uma ampla gama de modelos. Um padrão, é claro, também, deve levar em conta a preferência dos motociclistas. Um padrão que só permita capacetes de rosto inteiro, por exemplo, não terá popularidade com motociclistas em países tropicais e sub-tropicais.
Em diversos países, capacetes falsificados – ou “falsos” – são comuns no mercado. Da mesma forma que oferece risco de lesões para os usuários, sua produção mostra que os fabricantes que não atendem aos requisitos de padrão sofrem uma perda substancial em decorrência dessas vendas. No entanto, se estiver em vigor uma lei de uso de capacete e seu padrão, então o padrão pode ser usado para melhorar a qualidade dos capacetes entre os fabricantes bons, que atendem aos requisitos. Ser exigente no controle de qualidade dos capacetes e oferecer incentivos aos fabricantes para que produzam capacetes de alta qualidade e mais acessíveis é um passo que beneficiará tanto os motociclistas quanto os bons fabricantes.
Ao desenvolver o cronograma em um plano de ação, é importante considerar o tempo ideal para adoção e aplicação de um padrão de capacete. Por exemplo, um grupo de trabalho pode decidir desenvolver uma cultura de uso de capacete antes de acrescentar componentes para imposição de padrões de capacete. Se um padrão for especificado cedo demais, então as campanhas para promoção de uso de capacetes não poderão ocorrer em muitas situações, devido à falta de padrões específicos de país para país, e à falta de um mecanismo para verificação desses padrões. Além disso, muitas Leis de Veículos Motores lançadas por departamentos de transporte especificam uma lei de capacetes e não mencionam padrões.
3.4.3. Especificações gerais para capacete
Os padrões internacionais para capacete, muitas vezes, definem um capacete como consistindo de uma camada externa dura e uma forração interna que pode ser esmigalhada. No entanto, o padrão não estipula que um capacete seja feito dessa forma. Um padrão eficaz de capacete pode, simplesmente, definir um capacete como um dispositivo de proteção projetado para proteger a cabeça no caso de um impacto. É importante para um padrão incluir o máximo possível e evitar restringir o projeto ou os materiais usados.
Os materiais de um capacete não devem sofrer mudanças significativas com a idade ou uso normal. Os materiais não devem sofrer degradação pela exposição às condições de tempo – como o sol, a chuva ou calor e frio extremos. Os materiais que entram em contato com o corpo humano não devem ser afetados pela exposição a cabelo, pele ou transpiração. Os materiais também não devem ser tóxicos e não devem causar reações alérgicas.
Os capacetes podem ter proteção para as orelhas ou para o pescoço. Também podem ter um topo removível, um visor, e uma cobertura para a parte inferior do rosto.
Os capacetes devem ser projetados de forma a não afetarem, perigosamente, a capacidade do usuário de ouvir ou ver. O projeto do capacete não deve fazer com que a temperatura no espaço entre a cabeça e o casco se eleve sem justificativa. Para evitar isso, orifícios de ventilação devem ser inseridos no capacete.
O capacete deve ser mantido no lugar por um sistema de contenção que esteja preso sob o maxilar inferior. Todas as partes desse sistema devem estar permanentemente presas ao capacete. A tira do queixo deve ser ajustável e equipada por um sistema de retenção.
Teste
Fazer o teste apropriado de todos os principais componentes do capacete irá garantir que os produtos atendam a um mínimo do padrão de segurança e qualidade (Box 3.4). A seguir, temos exemplos de procedimentos de testes usados para determinar a capacidade de proteção de um capacete. A seção relevante a consultar, da Regulamentação Unece nº 22, está em colchetes para cada caso.
- Teste de condicionamento expõe os capacetes e componentes tanto a temperaturas altas quanto baixas, de forma a determinar a integridade do produto [Unece – Regulamentação nº 22, Seção 7.2].
- Testes de absorção de impacto determinam a capacidade de um capacete de absorver impacto quando deixado cair, em queda livre guiada, sobre uma bigorna de aço. Um teste de absorção de impacto é absolutamente necessário [Unece – Regulamentação nº 22, Seção 7.3].
- Testes para projeção e fricção de superfície são realizados para avaliar a maneira pela qual um casco externo se desvia, se solta, ou escorrega para fora, quando sofre impacto [Unece – Regulamentação nº 22, Seção 7.4].
- Testes de rigidez determinam a força de um capacete quando lhe é aplicado peso de cada lado [Unece – Regulamentação nº 22, Seção 7.5].
- Testes de força dinâmica são feitos sobre o sistema de retenção do capacete. Nesse tipo de teste, é aceitável que o sistema de retenção fique danificado, desde que ainda seja possível retirar o capacete da cabeça [Unece – Regulamentação nº 22, Seções 7.6 e 7.7].
Um padrão eficaz não tem de incluir todos esses testes, mas pode restringir-se aos que asseguram o capacete mais eficaz para a situação, em particular, e para os riscos, em particular, enfrentados pelos motociclistas em determinado lugar. Um padrão apropriado também leva em conta a capacidade de teste de um país.
Se um tipo de capacete tiver um visor, o visor deve passar por teste. Um socador de metal deve ser usado para determinar se o visor irá se despedaçar ou produzir estilhaços pontiagudos quando sofrer impacto [Unece – Regulamentação nº 22, Seção 7.8].
A tira do queixo deve ser testada para ver se não escorrega, se é resistente a abrasão, se não solta inadvertidamente sob pressão, se se solta fácil, e pela durabilidade dos mecanismos para soltar rápido [Unece – Regulamentação nº 22, Seções 7.9- 7.11].
Certificação
O processo de certificação é empregado para fazer cumprir os padrões. Recomenda-se que o método de “aprovação de tipo” seja usado para assegurar uniformidade. Nesse método, uma amostra do produto é submetida ao departamento de aprovação designado para teste e autorização independente. Se algum padrão foi introduzido recentemente, os procedimentos para testar um capacete, provavelmente, serão realizados por um departamento de aprovação existente. O departamento mais provável será um centro para padrões no ministério da ciência, ou um centro de testes no departamento de padrões ou de registro de veículos.
Recomenda-se aprovação de tipo, em vez de autocertificação, por que permite cumprimento mais rigoroso dos padrões de uniformidade. Além disso, a autocertificação permite maior margem de desonestidade por parte de fabricantes inescrupulosos.
Em resumo, ao se desenvolver um padrão de capacete para motociclistas, a seguinte lista de itens de verificação pode ser útil:
Projeto de capacete de motociclista
Se parte do programa de uso de capacete é fabricar capacetes, é importante que os capacetes sejam projetados para atender aos mais novos padrões, e para se adequarem às condições locais. O Módulo 1 descreve as considerações que precisam estar em mente ao se projetar um capacete.
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