Mortos e Feridos sobre duas rodas em São Paulo
"Estudo sobre a acidentalidade e o motociclista"
Proporção dos acidentes com vítimas envolvendo motocicletas, distribuição desses acidentes e das vítimas por dia da semana, por hora do dia, por ocupação principal, índices de acidentes nas vias mais perigosas da cidade, distribuição dos motociclistas por região de moradia, por escolaridade, por distância percorrida por dia, por acidentes sofridos, por região do corpo ferida, por sequelas adquiridas, por tempo de afastamento do trabalho, por frequencia de uso de equipamento de proteção,
Um estudo essencial para entender o fenômeno dos acidentes com motos em São Paulo.
Estudo realizado em 2009 por Heloísa Martins e Eduardo Biavati, publicado e comentado no blog de Eduardo Biavati. Para acessar o blog, clique aqui.
Extratos
Resumo Executivo
1. A motocicleta é o principal vetor da violência do trânsito paulistano. Entre 2004 e 2007, as mortes de motociclistas cresceram 46,5%. Em 2008, as motocicletas envolveram-se em 60% dos acidentes com vítimas.
2. Acidentes diurnos, mortes noturnas. O acidente sobre duas rodas acontece por igual a qualquer dia e hora, no período de segunda a sexta-feira, de 7 às 20 horas (73% do total). As mortes concentram-se no período noturno (64% das mortes entre 18 e 6:59 horas).
3. A periferia é o endereço do acidente com motocicletas. 60% das vias mais perigosas para o motociclista concentram-se em vias periféricas. As viagens sobre duas rodas em São Paulo partem das periferias porque é nelas que mora a maior parte tanto dos motociclistas (54,1%) como dos motofretistas (44,8%). Mais de 25% das vias mais perigosas têm característica rodoviária – fluxo de veículos de grande porte e alta velocidade.
4. A conduta de risco do motociclista determina a morte e o acidente. A prática do “corredor”, o avanço do sinal vermelho, a conversão proibida e a contramão são as causas principais (74%) das mortes de motociclistas. A conduta do motociclista leva ao extremo a invisibilidade da motocicleta no trânsito urbano.
5. Motociclistas e Motofretistas são um único personagem social. Os dois grupos residem nas mesmas regiões e apresentam as mesmas características socioeconômicas (sexo, idade, escolaridade, renda). Os motofretistas são apenas 25% dos usuários da motocicleta em São Paulo.
Gráfico 01 (p.32)
Tabela 02 (p.34)
Gráfico 05 (p.35)
Tabela 06 (p.45)
Tabela 07 (p.47)
Gráfico 24 (p.56)
Considerações Finais
Ao longo da última década, motocicletas e motociclistas consolidaram um fenômeno revolucionário na cidade de São Paulo, com múltiplas implicações sociais e econômicas. É um fenômeno irreversível e ainda em processo de expansão. Não é possível prever qual será o crescimento da participação das motocicletas na frota nem sua participação na circulação do trânsito da cidade; não é possível prever quando acidente com motocicleta será sinônimo de acidente de trânsito; nem quando os motociclistas serão a maioria absoluta do mortos no trânsito. No entanto, podemos imaginar com segurança, baseados nas correlações encontradas nesse estudo, como intervir nesse processo para preservar o maior número possível de pessoas e vidas.
Esse estudo responde a perguntas simples: quando, onde e como acontecem os acidentes e as mortes com motocicletas em São Paulo. O surpreendente é que estamos diante de um fenômeno que vem se repetindo com alta regularidade, no mínimo, nos últimos três anos, a despeito do aumento da frota de motocicletas, do aumento da atividade econômica ou de qualquer outra variável, nesse período. Temos conhecimento exato de como se distribuem os acidentes por cada hora do dia e por cada dia da semana e sabemos que as mortes são eventos da noite e da madrugada. Mais importante ainda, sabemos como morrem os motociclistas, vítimas de um comportamento de alto risco e da infração sistemática de qualquer regra de circulação. O “corredor” é um “feitiço contra o feiticeiro”, assim como avançar o sinal vermelho, andar na contramão, e a esperteza da conversão proibida. O problema é que o feiticeiro não paga a conta sozinho: pedestres e ocupantes de veículos morrem juntos com o motociclista nesse quadro geral de insegurança coletiva.
A forte homogeneidade socioeconômica dos motociclistas é uma chave de compreensão que faltava a esse quadro. Não basta apenas conhecer como morrem os motociclistas; é preciso saber, também, quem é o sujeito da ação no comando da motocicleta. Essa é a contribuição crucial da análise das ocupações dos mortos e, sobretudo, do perfil socioeconômico do motociclista. A motocicleta se tornou o veículo da empregabilidade e de produtividade do trabalho de centenas de milhares de homens, jovens, com escolaridade média, mas desqualificados para o mercado de trabalho competitivo. O motofretista é esse jovem, mas ele é apenas uma pequena parte de um conjunto muito maior, em que encontramos eletricistas, garçons, vendedores, serralheiros e cozinheiros. Há uma característica geracional importante a que se soma a concentração espacial da moradia desses motociclistas e desautoriza a distinção entre motofretistas e motociclistas. Não há uma “cultura do motoboy” pelo simples fato de que esse grupo não se distingue socioeconomicamente da grande massa de motociclistas da cidade – os dois são uma única figura social: o motociclista. O estudo subverte, portanto, o entendimento unânime dos meios de comunicação e da comunidade geral de que o problema da motocicleta se reduz ao problema do motofrete, como se nele encontrássemos a matriz dos comportamentos de risco que matam os motociclistas, quando na verdade ele é uma parte menor da questão.
É certo que há lacunas de conhecimento tanto sobre os acidentes como sobre as mortes de motociclistas em São Paulo; o volume de dados reunidos nesse estudo merece ser refinado e atualizado. Porém, temos o bastante para delinear uma nova ação que intervenha no grave problema sobre duas rodas que São Paulo vem testemunhando nos últimos dez anos. Não se transforma aquilo que não se conhece; agora conhecemos.
Para baixar o estudo, clique aqui
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